terça-feira, 5 de maio de 2015

Anexos do trabalho - Dinâmica de transmissão natural de Mansonella ozzardi (Manson) (Nematoda: Onchocercidae) na comunidade Pedras Negras, município de Sâo Francisco do Guaporé, Estado de Rondônia, Brasil






Dinâmica de transmissão natural de Mansonella ozzardi (Manson) (Nematoda: Onchocercidae) na comunidade de Pedras Negras, município de São Francisco do Guaporé, Estado de Rondônia, Brasil

Esta postagem foi estimulada por três aspectos:

1. A ex-aluna (e orientanda) abandonou os aspectos de pesquisa relacionados a este assunto;

2. Outros meus ex-orientandos estavam necessitando utilizar os dados não publicados do referido trabalho;

3. Estou escrevendo um trabalho mais abrangente que inclui muitos outros aspectos tanto referente à simulídeos como as transmissões feitas pelos mesmos, impedindo “de imediato”, o uso dos dados deste estudo para futuras pesquisas.

Este estudo é o resultado apresentando por SUZANE NEVES VELASQUES, para obter o seu título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Entomologia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI) no ano de 2013.

Foram feitas algumas alterações e ajustes no texto da dissertação, para que a mesmo assumisse a forma de um trabalho publicável.

Neste trabalho, além da aluna, colaboraram ativamente o orientador (Victor Py-Daniel) o biólogo (Ulysses Carvalho Barbosa), a bióloga Wanilze Barros e o Sr. Orlando dos Santos Silva. Também assina o trabalho o Dr. Luís Marcelo Aranha Camargo (USP), que esteve presente como co-orientador. 




Dinâmica de transmissão natural de Mansonella ozzardi (Manson) (Nematoda: Onchocercidae) na comunidade de Pedras Negras, município de São Francisco do Guaporé, Estado de Rondônia, Brasil Velasques,S.N.(1) & Py-Daniel,V.(2). & Camargo, L.M.A. (3) & Barbosa,U.C.(4): Barros,W. (4) & Silva,O.S. (4)

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(1) – Ex-aluna do Programa de Pós-Graduação em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) - Manaus
(2) – Universidade de Brasilia, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Zoologia, Laboratório de Entomologia Forense - Brasilia
(3) - Universidade de São Paulo – Rondônia
(4) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Coordenação de Sociedade , Ambiente e Saúde - Laboratório de Etnoecologia e EtnoEpidemiologia - Manaus



 Resumo

A mansonelose é uma doença cujo agente etiológico é a filária Mansonella ozzardi sendo transmitida por algumas espécies de ceratopogonídeos e simulídeos, No Brasil apenas os simulídeos estão incriminados como vetores, onde a doença é mais expressiva em comunidades ribeirinhas amazônicas. Isso confere a Rondônia um risco real de ocorrência desta filariose. Este trabalho investigou a ocorrência natural de M. ozzardi nas espécies antropófilas de simulídeos. As coletadas foram feitas na Comunidade Remanescente Quilombola de Pedras Negras, no Vale do Guaporé, Estado de Rondônia. Foram realizadas coletas de quatro dias mensais entre novembro de 2011 e outubro de 2012, de 6:00 às 18:30, com 30 minutos de intervalo durante os quais foi analisada a paridade das fêmeas capturadas. Duas espécies foram coletadas picando: Cerqueirellum pydanieli Pessoa & Barbosa & Medeiros, 2008. e Coscaroniellum quadrifidum (Lutz, 1910), sendo esta segunda assinalada pela primeira vez tanto para a atividade hematofágica no ser humano, como tendo a presença das formas de M.ozzardi. Houve maior abundância de fêmeas paríparas. Foram encontradas larvas de M. ozzardi em todos os estádios de desenvolvimento. A maior amostragem de simulídeos ocorreu no período das chuvas, ao qual ficaram restritas as coletas de C. quadrifidum. A atividade hematofágica foi maior no período vespertino para ambas as espécies de simulídeos. Os fatores climáticos temperatura e umidade foram considerados influentes na atividade da espécie C. pydanieli. Não houve correlações significativas com as demais variáveis e nem entre essas e C. quadrifidum. As taxas de infecção parasitária foram consideradas baixas e o Potencial de Transmissão Anual (PTA) foi considerado alto em comparação a outros estudos. Até o presente, não houve registro de caso de mansonelose em Rondônia, no entanto, tanto C. pydanieli quanto C. quadrifidum apresentaram positividade para infecção por M. ozzardi, com exemplares contendo larvas metacíclicas, indicando que ambas as espécies são prováveis transmissoras de filária na região do Vale do Guaporé, Estado de Rondônia, Brasil. No local estudado foram coletadas formas imaturas (larvas e pupas) tanto de C. pydanieli como de C. quadrifidum.

Palavras-chave: Simuliidae; Mansonella ozzardi; Mansonelose; Comunidade de Pedras Negras (RO); Vale do Guaporé (RO).



O parasito Mansonella ozzardi



A M. ozzardi é um asquelminto pertencente ao Filo Nematoda, Classe Secernentea, Ordem Spirurida, Superfamília Filarioidea e Família Onchocercidae. Agente etiológico da mansonelose, foi descoberta e descrita pelo Dr. Patrick Manson após análise de microfilárias encontradas em amostras de sangue periférico remetidas da Guiana Inglesa pelo Dr. A. T. Ozzard, sendo nomeada de Filaria ozzardi. Posteriormente, a espécie passou a integrar o gênero Mansonella estabelecido por Faust em 1929 (Tavares e Fraiha-Neto, 1997).
Os vermes adultos são albergados no mesentério, tecido conjuntivo subperitoneal e membranas serosas da cavidade abdominal do hospedeiro humano, sendo este, até o presente, seu único reservatório (Cerqueira, 1959; Neves, 2011). Possuem corpo longo e delgado, coloração branca, transparente, cucula lisa e homogênea e apresentam dimorfismo sexual. As meas medem entre 31 e 61 mm de comprimento por 0,15 mm de diâmetro. Os machos medem cerca de metade das meas, entre 24 a 28 mm de comprimento por 0,07 mm de diâmetro (Orihel & Eberhard, 1982).
As microfilárias são circulantes, encontradas no sangue periférico sem periodicidade. Medem cerca de 200 µ m, não possuem bainha na parte caudal, característica que as diferencia de outras espécies, e tem disposição regular em fila única dos primeiros cleos somáticos, que não atingem a extremidade. Seus cleos caudais são tipicamente reduzidos a uma fileira de 7 a 9 elementos, com a ponta da cauda desprovida de núcleos, além de uma cauda fina terminando em formato de foice ou gancho (Orihel & Eberhard, 1982; Tavares e Frahia Neto, 1997). Tem sobrevida de cerca de 32 meses e tem seu ciclo completo nos insetos vetores entre 9 e 12 dias (Cerqueira, 1959; Nathan et al., 1978; Shelley et al., 1980; Tidweel et al., 1980). Os estágios larvais se desenvolvem no vetor ao realizar repasto sanguíneo no hospedeiro, via pela qual sugam as microfilárias. Inicia-se o desenvolvimento de microfilárias ingeridas para a fase p-salsicide (L1), após, a fase salsicide (L2) e finalmente, a fase infectante ou metacíclica (L3) (Cerqueira, 1959).


A mansonelose



Os estudos  realizados  na  cidade  de  Codajás,  Amazonas,  Moraes  (1958,  1959) concluiu que a mansonelose constituía um problema extenso ainda pouco conhecido. Batista et al. (1960) e Oliveira (1961) realizaram estudos na mesma localidade com o intuito de esclarecer o papel da M. ozzardi no organismo humano, investigando assim os possíveis sintomas aparentes, o que possibilitou atribuir patogenicidade à doença, comprovando assim a sintomatologia cnica em mais de 50% dos casos. Ainda assim, a patogenicidade da mansonelose é frequentemente questionada pelo Ministério da Saúde do Brasil.
As manifestões cnicas da doença são causadas pelo acúmulo de microfilárias nos vasos sanguíneos periricos do homem e, em indivíduos com alta microfilaremia, uma variedade de sintomas como cefaléia, febre moderada, dores nas articulões, adenite acompanhada de tonturas e a sensação de frio nas pernas; estes sintomas podem ser confundidos com sintomas de malária (Bartoloni et al., 1999; Batista et al., 1960a, 1960b; Medeiros et al., 2008; Oliveira, 1961; Tavares, 1981). Os sintomas são provenientes de irritões locais provocadas pelas filárias e/ou por reações tóxicas e alérgicas decorrentes da sensibilização vascular, como ocorre em outras filarioses (Batista et al., 1960b).
Foram ainda encontradas lees oculares como possivelmente associadas à essa infecção parasitária. Lesões na córnea causando opacidade foram relatadas por Branco et al. (1998)  no município  de Pauini,  Amazonas  e sugerem a relação  com  a  presença  de microfilárias de M. ozzardi no sangue. Garrido & Campos (2000) também registraram lees visuais em pacientes do interior do estado do Amazonas que não possuíam lees de pele nem biópsia positiva indicativa de oncocercose. Outros registros similares foram investigados por Cohen et al. (2008), que não obtiveram dados conclusivos sobre a relação dessas lesões encontradas em pessoas infectadas por M. ozzardi. Mais recentemente, Vianna et al. (2012) encontraram microfilárias na córnea de indivíduos infectados e lees associadas à presença das mesmas. Estudos  apontaram  também microfiláriaencontradas  na  derme  em biópsias de pele em pacientes microfilarêmicos (Ewert et al., 1981; Mores, 1976). ainda registros de pápulas nas  mãos e  antebraços de  pacientes, regiões maiexpostas e  mais atingidas  pelas  picadas  de piuns (= nome comum, regional, para os simulídeos na Amazônia brasileira), incriminados  como  vetores  dessa filária  no  Brasil (Cerqueira, 1959; Oliveira, 1961).


A mansonelose em Rondônia

No Estado de Rondônia foi feito um inquérito na década de 1950 como parte de uma investigação nacional sobre filarioses, no entanto, não houve casos reportados de M. ozzardi, e sim de W. bancrofti, causadora da filariose linfática (Rachou, 1957; Basano et al., 2011). Meio século após esse levantamento, Basano et al. (2011) realizaram estudos com as populações de áreas ribeirinhas de Rondônia ao longo dos rios Madeira, Mamoré, Machado, Preto e Guaporé através do método da gota espessa. Todavia, novamente os resultados foram negativos para M ozzardi, fato que pode ser explicado pela existência de pacientes com baixas microfilaremias, associado à técnica diagnóstica de baixa sensibilidade utilizada no estudo, pois a região localiza-se próxima a áreas onde ocorre a doença e o trânsito de pessoas entre esses locais é recorrente, o que indica grande possibilidade de ocorrência de mansonelose na região. O Estado de Rondônia está situado em região limítrofe com áreas endêmicas de mansonelose pertencentes à República da Bolívia, e os estados brasileiros do Amazonas, Acre e Mato Grosso. A localização de comunidades ribeirinhas no Vale do Guaporé próximas a áreas bolivianas em que há positividade para mansonelose indica susceptibilidade da população à exposição da filariose. Há ainda atividade de simulídeos de hábitos antropófilos na região, dentre os quais C. pydanieli, tratado na literatura como possível vetor da filária M. ozzardi. Além disso, em coletas referentes a outros projetos, simulídeos foram capturados e enviados ao Laboratório de Etnoecologia e Etnoepidemiologia – LETEP/INPA, onde foi constatada infecção natural de alguns exemplares com estádios de M. ozzardi. Outro fator de risco para a população nativa é a alta trafegabilidade do Rio Guaporé, o que facilita a migração de indivíduos parasitados de áreas endêmicas para a região. Dessa forma, é possível que haja transmissão de mansonelose ao longo do Vale do Guaporé, com potencial de criação de novos focos de transmissão ativos de infecção por M. ozzardi.


A epidemiologia


A infecção por M. ozzardi é encontrada tipicamente em populões humanas que vivem  em zonas  rurais  e/ou  naturais  onde   condiçõefavoráveis  para  a  existência e atividade do inseto transmissor, ocorrendo principalmente em indivíduos que lidam diretamente com áreas de mata e próximos a rios e igarapés de água corrente (Shelley et al., 2001; Tavares & Fraiha Neto, 1997). Incide em ambos os sexos, com predonio sobre o masculino e a taxa de infecção aumenta, progressivamente, com a idade do paciente (Deane et al., 1954; Costa, 1956; Batista et al., 1960a; Tavares, 1981). Desde os primeiros relatos sobre a ocorncia de M. ozzardi no Brasil, suas taxas de prevalência nunca diminuíram e sua presença foi registrada em novas localidades (Martins et al., 2010). Em estudos recentes de Martins et al. (2010) e Medeiros et al. (2008; 2009a; 2009b) assinalam  que  ainda são encontrados  altos  índices  de  prevalência  na  região Amazônica e embora essa seja uma doença negligenciada, desde os anos 1950, pesquisadores alertam para as altas taxas de infecção (Rachou, 1954; Lacerda & Rachou, 1956; Oliveira, 1961; Shelley, 1975; Moraes et al., 1978; Tavares, 1981; Adami et al., 2008; Medeiros et al., 2008, 2009a). Em geral, M. ozzardi tem alta prevalência nas comunidades infectadas. No estado do Amazonas, Medeiros et al. (2007) encontraram taxas de prevalência de 28,4% no município de Pauini e 30,2% no município de Lábrea (Medeiros et al. 2008), 18,9% no município de Coari (Cohen  et  al.,  2008), enquanto Moraes (1978)  encontrou  taxas  de  48,2%  em comunidade dos índios Tikuna. Na Venezuela, Formica & Botto (1990) detectaram taxa de prevalência de 30% com M. ozzardi. A microfilaremia pode alcançar níveis muito altos em pessoas de mais idade, como o caso de um indígena de 60 anos que apresentava 697 microfilárias em uma única gota de sangue, no entanto crianças também são encontradas infectadas, mesmo que em menor prevalência e microfilaremia (Moraes, 1978). Lacey e Charlwood (1980) afirmam ainda haver fatores que, em conjunto, agem de forma a estimular a atividade hematogica em certos períodos do dia. Medeiros et al. (2006) observou, ao longo e um ano, que as variações na atividade hematofágica diária de C. argentiscutum são influenciadas principalmente pelos fatores climáticos temperatura e umidade, tanto na estação seca quanto na estação chuvosa. Dessa forma o conhecimento de padrões de picada e a influência de fatores abióticos são de grande relevância, principalmente para a saúde de populões expostas ao risco.


Modo de transmissão



O ciclo de transmissão da mansonelose ocorre quando o pium (Simuliidae) ou maruim (Ceratopogonidae) faz o repasto sanguíneo no indivíduo com microfilárias no sangue. Ao serem ingeridas, as microfilárias migram para o intestino, posteriormente, para o tórax, onde se transformam em larvas No estágio L1. Posteriormente, cerca de uma semana, a L1 transforma-se em L2, seguidamente pela fase L3, fase metacíclica ou infectante; essas larvas L3 movimentam-se em direção à cabeça do inseto, alcaando a probóscida e então, ao fazer novo repasto, o pium/maruim libera a forma infectante, podendo contaminar o hospedeiro (Figura 1) (Center for DiseasControl and Prevention, 2009).






Distribuição geográfica



Essa filariose autóctone do continente americano, é encontrada a partir do México, seguindo pelas Antilhasilhas do  Caribe  (tais  como  Haiti,  Saint  Vincent  e  Trinidad), Colômbia, Venezuela, Guianas, Peru, Bovia, Argentina e Brasil (Guttman, 1976; Nathan, 1978; Nathan et al., 1979; Raccut et al., 1980; Lightner et al., 1980;   Godoy et al., 1980; Ewert et al., 1981). Lightner et al. (1980) afirmam que a presença de M. ozzardi está restrita no oeste da Colômbia, onde é altamente endêmica. Godoy et al. (1980) relataram infecção em 58% dos indígenas moradores em zonas de florestas no Sudoeste do Estado de Bovar, na Venezuela, informação compartilhada por Briceño Rossi & Mayer (1949), no Estado do Amazonas, que encontraram indígenas  residentes  ao longo do  rio  Orinoco.  Ainda  na  área  do  Orinoco, Yarzabal et al. (1982) investigaram a infecção natural e evolução da infecção experimental para avaliar a capacidade de transmissão de M. ozzardi por Simulium sanchezi Ramirez Perez, Yarzabal & Peterson, 1982 [Cerqueirellum oyapockense]. Shelley & Coscarón (2001) ao investigarem a infecção natural de S. exiguum Roubaud 1906 [Notolepria exiguua (Roubaud, 1906)], observaram a ocorrência de microfilária até o estágio infectante, o L3, sendo esta espécie incriminada como vetor na Argentina. Apesar da M. ozzardi ser frequentemente encontrada em populões indígenas e ribeirinhas, e as infeões por M. perstans, embora muitas vezes assintomática, serem associadas a manifestões de angioedema, prurido, febre, dores de cabeça, artralgias, e neurológicas, no Brasil apenas a O. volvulus e a W.bancrofti são consideradas problemas de saúde pública pelas organizões de saúde (Adami & Maia-Herzog, 2008; Center for Disease Control and Prevention, 2009). A mansonelose, por M. ozzardi, foi observada no país pela primeira vez por Deane (1949) em levantamento realizado na cidade de Manaus ao constatar a presença de microfilárias no sangue de 15 pacientes (n= 2.045). Fora do Estado do Amazonas foi assinalada por D' Andretta et al., (1969), entre indígenas do alto rio Xingu, Mato Grosso e por Oliveira (1963) em Roraima.




Os vetores da mansonelose



A transmissão da mansonelose é através de vetores das famílias Ceratopogonidae (maruins) e Simuliidae (piuns, borrachudos) e ocorre com maior freência entre indivíduos que lidam diretamente em áreas de mata e têm afazeres próximos rios e igarapés com corredeira ou forte correnteza, locais de criadouros dos simudeos, cujas larvas e pupas necessitam de abundante oxigênio para seu desenvolvimento (Tavares & Fraiha Neto, 1997; Shelley et al., 2001). Em geral, ceratopogonídeos do gênero Culicoides conhecidos popularmente por maruins, tem capacidade de serem vetores de doenças, tais como o vírus de Oropouche, entre outras parasitoses transmitidas ao homem e animais, inclusive a mansonelose, pelas quais são responsáveis na América Central e Argentina, Colômbia além de serem atribuídos também a alergias asmatiformes e dermatites, como a dermatite alérgica sazonal, comum em cavalos (Shelley et al., 2001; Aparício et al, 2009).Estudos pioneiros sobre transmissão realizados por Buckley (1934) incriminaram Culicoides  furens  (Poey) como  vetor da M.  ozzardi  em  Saint Vicent, no Caribe. Posteriormente C. furens e C. phlebotomus (Williston) foram também incriminados como vetores nas ilhas de Trinidad e Haiti (Nathan, 1978, Lowrie&Raccurt, 1981). A espécie C. furens é ainda a transmissora da filária no México, de acordo com Biagi et al. (1958). Na América do Sul, C. paraensis (Goeldi) foi incriminado como provável vetor no norte da Argentina por Romaña & Wygodzinsky (1950) após verificarem o desenvolvimento até o segundo estádio larval de M. ozzardi em exemplares coletados. Na Colômbia, dos 129 espécimes de C. caprilesi Fox alimentados em voluntário infectado, um possuía larvas de segundo estágio de M. ozzardi (Tidwell et al., 1980). Tidwell et al. (1982) identificaram C. insinuatus Ortiz & Leon como vetor dessa filária na Amazônia colombiana, sendo essa espécie também encontrada em estados do Norte do Brasil como Amazonas, Pará, Acre, Amapá e Roraima (Veras, 1998). Outra espécie incriminada como vetor é C. lahillei (Iches), no qual uma L3 se desenvolveu seis dias após infecção experimental na Argentina (Shelley & Coscarón, 2001). Até o momento, apenas simudeos foram encontrados e incriminados como vetores no Brasil: a espécies Cerqueirellum argentiscutum  (Shelley   Luna   Dias,   1980), C. oyapockense (Floch & Abonnenc, 1946) e C. amazonicum (Goeldi, 1905) (Cerqueira, 1959; Shelley et al., 1980; Medeiros et al., 2004). Recentemente, Pessoa et al. (2008b) sugeriram a espécie C.  pydanielicomo  um potencial  vetor  da  M.  ozzardi  na  região  do  rio  Ituxi, Amazonas.




Os simulídeos



Os  simudeos,  também  chamados  piuns  (Região Norte)  e  borrachudos  (demais regiões) são insetos cosmopolitas pertencentes à Ordem Diptera, Subordem Nematocera, Infraordem Culicomorpha e Superfamília Simulioidea (Borkent, 2012). São insetos pequenos, medindo de 1 a 5mrn de comprimento, tem o corpo robusto, normalmente de cor escura (negro, marrom ou cinza), podendo as espécies da Região Neotropical apresentar coloração alaranjada e amarelada. As antenas são formadas por 11 arculos e as asas são membranosas nervuras anteriores fortes. São holometábolos e seu ciclo é realizado exclusivamente em água corrente (ambientes lóticos) e as meas de muitas espécies são hematófagas e necessitam de sangue de vertebrados para o desenvolvimento dos óvulos, sendo por essa via a transmissão de agentes etiológicos. Aproximadamente 10% das cerca de 2.000 espécies descritas são antropófilas e zfilas, todavia, menos de 50 espécies são transmissoras de patógenos (Crosskey, 1990; Neves, 2011).A importância médica dos simudeos é decorrente da transmissão de filárias, no entanto, a saliva em contato com a lesão ocasionada pela hematofagia pode causar reações alérgicas, tais como a chamada síndrome hemorrágica de Altamira (Pará), e o pênfigo foliáceo ou fogo selvagem, doença crônica resultante de reações imunológicas severas (Dalmontes et al., 2001; Eaton et al., 1998; Neves, 2011; Pinheiro, et al., 1974; Strieder & Corseuil, 1992).




Infecção natural em simulídeos



Na Colômbia, Tidwell et al. (1980) e Tidwell & Tidwell (1982) atribuíram, respectivamente, Simulium sanguineum [=Cerqueirellum sanguineum (Knab, 1915)], S. amazonicum [= C.  amazonicum (Goeldi, 1905)], S. argentiscutum [= C. argentiscutum (Shelley & Luna Dias, 1980)] como prováveis responsáveis pela transmissão de M. ozzardi no referido país; no Panamá, a espécie incriminada foi S. sanguineum [= C. sanguineum] (Peterson et al., 1984); na Guiana, a espécie S. minusculum [= C. amazonicum] foi a identificada como transmissora por Nathan et al. (1982); Na Venezuela, Ramirez-Perez et al. (1982)  e  Yarzábal  et  al.  (1985)  incriminaraS. sanchezi [= C.  oyapockense (Floch  e Abonnec, 1946)] como vetor. Em 2001, Shelley e Coscarón investigaram a infecção experimental e natural em S. exiguum [= Notolepria exiguua (Roubaud, 1906)], na Argentina e observaram a ocorrência do desenvolvimento de microfilária até o estágio metacíclico (L3). No Brasil, Cerqueira (1959) ao encontrar simudeos naturalmente parasitados com M. ozzardi, acompanhou a evolução dessas até a fase metacíclica (L3) através de infecção experimental em S. amazonicum [= C. amazonicum], concluindo ser esta a espécie vetora da mansonelose em Codajás, no Amazonas. Shelley & Shelley (1976), no Purus, ao coletarem simudeos infectados em humanos e bovinos, simudeos esses infectados com 1º. estádio larval e um indivíduo com larva no 3º. estádio, confirmaram que S. amazonicum [= C. amazonicum] seria vetor de M. ozzardi. Posteriormente, Shelley et al. (1980) demonstraram haver duas espécies envolvidas na transmissão da mansonelose no alto rio Solimões: S. amazonicum [= C. amazonicum] e S. argentiscutum [C. argentistcutum]. Fraiha (1980) ao investigar a ocorrência de mansonelose em populões indígenas Ticuna, afirma que a transmissão por S. argentiscutum [= C. argentiscutum] e S. amazonicum [C. amazonicum] ocorre em maior freência quando o indígena entra na mata devido aos vetores terem  hábitos  silvestres  do  que  nas  aldeias. Ambas  as  espécies são, ainda, mencionados por Py-Daniel (1983) como espécies importantes epidemiologicamente pelo envolvimento na transmissão de filárias ao homem, e, portanto merecem atenção já que ocorrem  ao longo  do  rio Purus, no Amazonas.  Em  Roraima,  Moraes  et  al.  (1985) incriminaram S. oyapockense [C. oyapockense] como vetor da mansonelose no estado. No Amazonas, Medeiros & Py-Daniel (2004), encontraram na comunidade de Porto do Japão, no baixo Rio Solimões, uma taxa considerada baixa de C. argentiscutum infectados com o estádio L3. Em estudos epidemiológicos em comunidade indígenas no município de Pauini, Medeiros et al. (2007) constataram em C. amazonicum infecções com os estádios L1 e L2. Posteriormente, Medeiros et al. (2009), investigaram comunidades ao longos dos rios Pauini e Purus e encontraram todos os estádios de M. ozzardi em C. amazonicum. No município de Boca do Acre, também foram encontrados indivíduos de C. amazonicum infectados com todos os estádios de M. ozzardi, no entanto, a taxa de infecção foi considerada baixa.  Medeiros et  al.  (2011) encontraram  exemplares de  C.  amazonicum  infectados, demonstrando essa ser a espécie vetora na Região. Dentre os grupos supra-específicos de Simuliidae vetores de mansonelose e oncocercose na América do Sul, destaca-se o gênero Cerqueirellum Py-Daniel, 1983 (Pessoa et al., 2008a). Ao que parece a armadura cibarial presente nas meas de espécies antropófilas desse gênero é fundamental, pois essas tem menos mortalidade e mais efetividade vetorial quando picam em grandes quantidades, ou seja, o mero de simudeos picando é tão grande que mesmo as poucas microfilárias que sobrevivem, se desenvolvem e atingem a forma infectante (Shelley, 1988; Shelley, 1991).


Objetivos do estudo

    • 1.Investigar a ocorrência natural da filária M. ozzardi nas espécies antropófilas de piuns coletadas e de fatores epidemiológicos de risco da mansonelose na comunidade de Pedras Negras, município de São Francisco do Guaporé, Rondônia; 
    • 2.Verificar a sazonalidade das fêmeas coletadas relacionando os fatores climáticos temperatura, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, luminosidade, pluviosidade e cobertura de nuvens na abundância dos simulídeos;
    • 3.Determinar o estado fisiológico reprodutivo (nulíparas ou paríparas) nas fêmeas pelas condições dos ovários;
    • 4.Estimar a Taxa de Infecção Parasitária (TIP) e o Potencial de Transmissão Anual (PTA);
    • 5.Observar o grau de desenvolvimento dos estádios larvais de M. ozzardi nos simulídeos das espécies coletadas picando.

Justificativa




O Estado de Rondônia está situado em região limítrofe com áreas endêmicas de mansonelose pertencentes à República da Bovia, Amazonas, Acre e Mato Grosso. A localização de comunidades ribeirinhas no Vale do Guaporé próximas a áreas bolivianas em que positividade para mansonelose indica susceptibilidade da população à exposição da filariose. Existe a informação de atividade de simudeos de hábitos antropófilos na região, dentre os quais C. pydanieli, tratado na literatura como possível vetor da filária M. ozzardi. Além disso, em coletas referentes a outros projetos, simulídeos foram capturados e enviados ao Laboratório de Etnoecologia e Etnoepidemiologia – LETEP/INPA, onde foi constatada infecção natural de alguns espécimes com estádios de M. ozzardi. Outro fator de risco para a população nativa é a alta trafegabilidade do Rio Guapo, o que facilita a migração de indivíduos parasitados de áreas endêmicas para a região. Dessa forma, é possível que haja transmissão de mansonelose ao longo do Vale do Guapo, com potencial de criação de novos focos de transmissão ativos de infecção por M. ozzardi.



Área de estudo


Pedras Negras (12°50’ 45.37” S; 62º54’05.04”S), pertencente ao município de São Francisco do Guaporé, é uma comunidade remanescente quilombola localizada a extremo oeste de Rondônia em área de reserva extrativista (RESEX) no Vale do Rio Guaporé, fronteira com a Bolívia. Tem área de aproximadamente 90 mil hectares e a principal atividade econômica do povo é a extração de castanha-do-Pará (Hevea braziliensis) (Brandão, 2002). É um dos mais antigos povoados do Vale do Guaporé, com registros da primeira metade do século XVIII (Teixeira & Fonseca, 2010), e possui uma população de aproximadamente 150 pessoas. O acesso à área é via fluvial. Complementam a economia de subsistência com a pesca e a produção de farinha. O clima é do tipo equatorial quente e úmido, com 2 a 3 meses de seco. A temperatura média anual é da ordem de 25°C, sendo o trimestre mais quente agosto, setembro e outubro e o mais frio maio, junho, e julho, possuindo um total pluviométrico entre 2.000 e 2.200 mm. O relevo é caracterizado de planícies com baixas altitudes em torno de 200 m. É uma área de transição entre a Amazônia e o Planalto Central Brasileiro, com aspectos variados e complexos. Sua cobertura vegetal tem a predominância de florestas densas. O rio Guaporé e seus afluentes são regidos pelo mesmo regime pluvial reinante na área. A subida das águas tendo início em outubro ou novembro, prolongando-se até março, e estiagem com sensível redução do nível da água nos meses seguintes (Ministério do Meio Ambiente, 2010).






Figuras 1 e 2 -  Localizção da Comunidade Pedras Negras, Rondonia. e limite com a Bolivia.






Figuras 3,4,5 e 6 -  Paisagens da Comunidade Quilombola Pedras Negras, Vale do Guaporé, Rondônia.



Período de coleta


Foram realizadas coletas por 12 meses, abrangendo assim as épocas de chuva e seca na região, com excures de 4 dias consecutivos mensais, com início da captura de piuns às 06:00 e término às 18:30, com total de 13 intervalos diários de coleta, sendo 6 períodos matutinos e 7 vespertinos, modelo baseado em trabalhos anteriores desenvolvidos por Medeiros et al. (2001; 2004; 2006), com modificações para intervalos de 30 minutos.

Coleta de simulídeos


Os simudeos foram capturados com coletores de sucção no momento de pouso para picar. Essas capturas ocorreram em turnos alternados de 30 minutos, sendo 30 minutos para coleta e 30 minutos para intervalo e análise da paridade dos piuns coletados.


Análise dos ovários



A idade fisiológica é expressa pelo mero de ciclos gonotróficos da fêmea, iniciados pela busca e obtenção do repasto sanguíneo e continuados com a digestão do sangue e amadurecimento do cito, sendo finalizados com a oviposição (Detinova, 1962). Durante os intervalos de coleta, foram realizadas análises dos ovários para verificação da idade fisiológica das meas e classificadas como nuparas (ainda não produziram ovos) ou paríparas (produziram ovos, já realizaram repasto sanguíneo). As   nuparas  tem  ovários  transparentes   compactos  com  corpos  gordurosos abundantes, as paríparas tem ovários amarelados e tecidos mais frouxos (Nelson, 1966; Rarez-Perez, 1977). As meas, anestesiadas com clorofórmio foram levadas ao microscópio estereoscópio binocular sob uma gota de soro fisiológico em lâmina escavada para dissecção, em que seo puxados os últimos segmentos abdominais com auxílio de estiletes entomológicos fim de visualizar os ovários (Kamm & Ritcher, 1972). Após a verificação do estágio de desenvolvimento dos ovários, os exemplares foram acondicionados em frascos contendo álcool a 70%, devidamente etiquetados com horário de coleta, mero total de exemplares coletados no dado intervalo e estado de desenvolvimento ovariano.


Análise em laboratório



Com auxílio de pipeta, todo álcool contido nos frascos de acondicionamento dos simudeos foi retirado, sendo esses recipientes lavados com água. Após, a água foi retirada e substituída por hematoxilina ácida, por 36 horas, para coloração dos simudeos. O recipiente contendo os exemplares, novamente lavado com água para eliminar o excesso de hematoxilina, teve acréscimo de glicerina para conservação. Após esse processo, foram realizadas as disseões com auxílio de microscópio estereoscópico binocular onde os simudeos, colocados em lâminas, tiveram cabeça, tórax e abdome separados com auxílio de estiletes e colocados, cada parte, em uma gota de glicerina. A cucula dos piuns foi cuidadosamente retirada para que somente os músculos e partes internas da cabeça e abdome fossem visíveis. Confeccionadas as lâminas, estas foram levadas ao microscópio óptico binocular para análise e verificação da presença de filárias. Quando positivas, as meas infectadas tiveram os estádios larvais quantificados e identificados de acordo com o desenvolvimento identificado (mf, L1, L2, L3).


Taxa de Infecção Parasitária (TIP)


Obtida pelo mero de meas paríparas infectados com qualquer estádio de desenvolvimento de M. ozzardi e dividido pelo número de meas paríparas vezes 100 (Py- Daniel et al., 2000):

TIP = Nº de indivíduos paríparos infectados X 100 / Nº de simulídeos paríparos



Potencial de Transmissão Anual (PTA)



Expressa o mero de larvas metacíclicas (L3) que podem ser transmitidas a uma pessoa exposta ao vetor pelo período de um ano, sendo calculado pela soma dos Potenciais de Transmissão Mensais (PTM). Taxa Mensal de Picada (TMP): mero de piuns que picariam, durante todas as horas do dia, uma pessoa que permanecesse numa mesma área por um mês, exposta todas as horas do dia. A TMP é obtida considerando o total de meas capturadas, e também considerando apenas as meas paríparas (Davies & Crosskey, 1991):

TMP1 = Total de meas capturadas X de dias do mês / Nº de dias de captura


TMP2 = Total de meas paríparas X de dias do mês / Nº de dias de captura


Potencial de Transmissão Mensal (PTM): mero de larvas metacíclicas (L3) que podem ser transmitidas a uma pessoa exposta ao vetor por um mês:


PTM1 = TMP1 X de larvas metacíclicas / Nº de meas dissecadas

PTM2 = TMP2 X de larvas metacíclicas / Nº de meas dissecadas



Dados climáticos


Foram obtidos no próprio local de coleta e medidos no início e no fim de um intervalo de coleta, isto é, de 30 em 30 minutos, sendo registrados em uma planilha de campo (Anexo 1). Os dados climáticos analisados foram: temperatura (°C), umidade relativa do ar (%), pressão atmosférica (mm Hg), intensidade da luz (Lux) e nebulosidade, classificada em tempo limpo, nublado e chuva, estimados por observação, com valores 0, 1 e 2, respectivamente. Os aparelhos utilizados foram um barômetro marca Oregon Scientific e modelo BA-888 integrados (pressão atmosférica, temperatura e umidade relativa do ar) e um fotômetro marca Gossen e modelo Lunasix 3. Os dados sobre o nível de cotas do Rio Guaporé foram disponibilizados pela Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais - CPRM, responsável pelo monitoramento dos rios.


Tratamento dos dados



Foram feitas médias mensais dos valores horários da pressão atmosférica, temperatura e umidade relativa para avaliar o efeito dessas na abundância mensal dos piuns. Foram utilizados o Teste T para duas amostras independentes quando os dados apresentaram distribuição normal e teste Mann-Whitney quando não apresentaram normalidade para comparar o mero de piuns entre as estões seca e chuvosa, entre período matutino e vespertino, e entre nupara e parípara o. O coeficiente de Spearman foi usado pra testar a associação entre a abundância de simudeos e os fatores climáticos. Quando os dados não apresentaram distribuição normal, foram transformados para Log10, assim como para melhor visualização dos dados em alguns gráficos.



Informações adicionais


A nomenclatura utilizada é de acordo com Py-Daniel & Moreira-Sampaio (1994), que elevam a gênero os subgêneros da família Simuliidae da Região Neotropical.



Resultados e discussão



Atividade de picada 


Os dados foram distribuídos em 48 dias de coleta nos 12 meses amostrados, com 13 períodos (30 minutos) diários, 52 períodos mensais e 624 anuais. Ao todo foram coletadas 8.960 fêmeas de simulídeos, com uma média de 746,6 indivíduos por mês e 186,6 indivíduos por dia. Foram coletadas duas espécies picando: Cerqueirellum pydanieli Pessoa,Medeiros e Barbosa, 2008 e Coscaroniellum quadrifidum Lutz, 1917 (Figura 5). A primeira espécie foi mais abundante significativamente que a segunda (p = 0,002), exercendo maior atividade de picada, com 7.683 (85,7%) indivíduos (Tabela 1). As fêmeas de C. pydanieli foram coletadas durante todos os meses amostrados, ocorrendo em mais abundância nos meses de abril, maio e junho, sendo menos expressiva nos meses de novembro (2011), agosto, setembro e outubro (2012). A espécie C. quadrifidum foi coletada apenas entre os meses fevereiro e junho, não sendo registrada nos outros meses, exercendo menos atividade em relação à C. pydanieli. Com relação à distribuição sazonal, ambas as espécies tiveram maior abundância na estação das chuvas (6.673 indivíduos; 74,5% do total) em detrimento da estação seca (2.287 indivíduos; 25,5% do total), sem diferenças significativas entre a abundância e as estações (p = 0,8). A espécie C. pydanieli teve maior representatividade no mês de abril (2.635 indivíduos), período de chuva máxima na região quando o Rio Guaporé atinge a cota máxima (cerca de 19 metros) e em junho (1.589 indivíduos), quando inicia o período de seca, coincidindo com a baixa gradativa do nível do rio (Tabela 1). A menor quantidade de indivíduos ocorreu nos meses de setembro (8 indivíduos) e outubro (6 indivíduos), estação seca, e período de intensas queimadas na região, tanto natural quanto artificial (pastos para abrigar criações de gado bovino e bubalino) (p = 0,08). A espécie C. quadrifidum também teve maior expressão no mês de abril (1.117 indivíduos)  e  sua  ocorrência  restringiu-se aos  períodos  de  início  e final  da  estação chuvosa, acompanhando o regime das cheias do rio, com abundância significante entre seca e cheia (p < 0,0001) (Tabela 1). 








Os resultados encontrados são correspondentes com os relatos dos habitantes da comunidade ao afirmarem que há maior quantidade de piuns na época das chuvas. Os piuns são insetos holometábolos e tem as fases de ovo, larva e pupa em ambientes aquáticos. O aumento da precipitação pode ser considerado fator determinante no estabelecimento  de  criadouros  devido principalmente  à   maior  disponibilidade  de substratos (folhas, galhos, plantas não aquáticas pendentes nas margens dos rios) por conseqüência responsável pelo aumento da população de adultos (Py-Daniel & Rapp Py- Daniel 1998; Grillet et al., 2001). Variações de abundância determinadas pelo regime hídrico são reportadas em alguns estudos, que observaram a relação direta e positiva entre a pluviosidade e a quantidade de piuns (Strieder, 1991; Medeiros & Py-Daniel 1999; Py- Daniel et al. 2000). Na Região Amazônica, Cerqueira (1959) pressupôs que a maior densidade de piuns da espécie S. argentiscutum [= C. argentiscutum] ocorria na estação de maior pluviometria na região de Codajás, Estado do Amazonas. Medeiros (2001) observou grande diferença no número de indivíduos de C. argentiscutum na estação cheia em relação aos coletados na estação seca na comunidade de Porto Japão, Estado do Amazonas. O mesmo padrão é observado em outras espécies: C. oyapockense teve maior amostragem em épocas de maior precipitação pluviométrica em área indígena Yanomami, no Estado de Roraima (Shelley 1988; Medeiros e Py-Daniel, 1999). Resultados similares foram encontrados por Andreazze (1999) com P. incrustata, em Xitei/Xidea, Estado de Roraima, onde o período chuvoso é mais prolongado por se localizar na região do alto Parima. Lacey (1981) verificou um aumento considerado na população de S. guianense [ = T. guianense] nos meses de maior pluviosidade no Parque Nacional da Amazônia, Estado do Pará. No entanto, Lacey e Charlwood (1980) encontraram maior número de espécies de S. sanguineum [ = C. amazonicum] durante os meses de seca, em Aripuanã, no Estado do Mato Grosso. Em Rondônia, Velasques et al. (2010) observaram uma tendência no aumento de indivíduos de C pydanielli nos meses de maior pluviosidade na região do Rio Machado, noroeste do estado. Santos (2001) encontrou resultados semelhantes que confirmam maior abundância de C. quadrifidum quando o nível dos rios aumenta, durante as chuvas. A maior abundância de piuns na época chuvosa se deve ao fato do aumento do nível da água nos criadouros, ocasionando maior oferta de substratos para as formas imaturas e consequentemente, maior número de indivíduos picando, sendo a população de piuns então regulada pelo regime das chuvas.


Distribuição diária


As espécies tiveram maior atividade de picada durante o período vespertino (12:00 – 18:30), com 5.367 indivíduos coletados em relação ao período matutino, em que foram coletados 3.593 fêmeas. Não houve diferença significativa entre a abundância de simulídeos coletados no período matutino e vespertino, o que indica que a atividade hematofágica é contínua o dia inteiro (p = 0,4). No quadro geral, os horários de menor atividade de picada ocorreram entre 6:00 - 6:30 no período matutino (56 indivíduos), e 18:00 – 18:30 no período vespertino (131 indivíduos). Já os horários de maior atividade foram às 8:00 – 8:30 matutinos (1.009 indivíduos) e às 16:00 – 16:30 vespertinos (1.280 indivíduos) (Tabela 2). No período matutino, a espécie C. pydanieli, apresentou maior atividade hematofágica no horário 8:00 – 8:30 (871 indivíduos) e menor atividade em 6:00 – 6:30 (45 indivíduos). No período vespertino, de maior atividade hematofágica para a espécie (4.647 indivíduos), foi observado um pico de atividade máxima no horário das 16:00 – 16:30, e atividade mínima em 18:00 – 18:30 (125 indivíduos), sem diferenças significativas entre o total de fêmeas coletadas entre manhã e tarde (p = 0,3) (Tabela 2). Resultados semelhantes foram encontrados por Shelley (1988) e Medeiros & Py- Daniel (1999) na atividade de picada de S. oyapockense [= C. oyapockense], que se mostrou mais acentuada no período da tarde. Strieder (1991), em estudo realizado em Picada Verão, Estado do Rio Grande do Sul, também observou que S. pertinax [= Chrostilbia pertinax], S. incrustatum [= Psaroniocompsa incrustata] e S. riograndense [= Chirostilbia riograndense] tiveram no quadro geral de amostras, maior atividade hematofágica no período vespertino. Velasques et al. (2012), observaram que C. pydanieli apresentou dois picos de atividade, um matutino na estação chuvosa e um vespertino, na estação seca e isso corrobora com os encontrados neste estudo (Tabelas 1 e 2). A maior atividade no período da tarde pode ter relação com certas condições climáticas que atuam como estímulo para que os piuns entrem em atividade em busca de sangue dos reservatórios. A espécie C. quadrifidum teve maior atividade hematofágica matutina no horário de 7:00 – 7:30 (313 indivíduos) e menor em 11:00 – 11:30 (9 indivíduos). A atividade vespertina da espécie foi maior (720 indivíduos) em relação à matutina (557 indivíduos), com um pico máximo de atividade em 17:00 – 17:30 (374 indivíduos) e menor abundância no horário de 12:00 – 12:30 (2 indivíduos) (Tabela 2). No entanto não houve diferença significativa entre os períodos manhã e tarde (p = 0,6). A distribuição de C. quadrifidum demonstrou ser bimodal, com maior amostragem no início da manhã e no final da tarde. Lacey (1981) observou que S. guianense [= Thyrsopelma guianense] e S. sanguineum [= C. amazonicum] também apresentaram padrão bimodal de picadas, sendo este atribuído a fatores intrínsecos sujeitos a modificações por elementos exógenos.





Atividade hematofágica mensal e estado fisiológico reprodutivo


Do total de fêmeas coletado, houve predominância de paríparas (6.846 indivíduos) em relação às nulíparas (2.114 indivíduos) (p = 0,0004): C. pydanieli teve 5.879 paríparas e 1.804 nulíparas (p = 0,2) e, C. quadrifidum, 967 paríparas e 310 nulíparas (p = 0,7). A maior abundância foi no mês de abril (2.872 paríparas; 880 nulíparas), período de chuvas, e a menor proporção foi entre setembro (4 paríparas; 4 nulíparas) e em outubro (4 paríparas; 2 nulíparas), no período de seca (Figuras 6 e 7). A predominância de fêmeas paríparas em relação às fêmeas nulíparas também foi encontrada nos trabalhos realizados por Medeiros e Py-Daniel (1999) com as espécies C. oyapockense e N. exiguua em Xitei/Xidea e por Shelley (1997) com C. oyapockense no rio Toototobi, ambas em área indígena Yanomami (Estados de Roraima e Amazonas, respectivamente). A alta proporção de fêmeas paríparas em relação às nulíparas pode indicar uma população predominantemente velha, que tem maior potencial na transmissão de doenças, bem como a grande longevidade das espécies, o que mostra maior número de repastos, aumentando assim possibilidade de transmissão de patógenos.









Atividade hematofágica diária e estado fisiológico reprodutivo




Das 5.879 fêmeas paríparas (p = 0,0004) de C. pydanieli, 2.256 foram coletadas no período da manhã e 3.623 no período da tarde. Das 1.804 fêmeas nulíparas, 780 foram coletadas no período da manhã e 1.024 no período da tarde. Com relação aos horários de coleta entre manhã e tarde, o maior número de paríparas foi em 8:00 – 8:30 (648 indivíduos) e em 14:00 – 14:30 (776 indivíduos) respectivamente; as nulíparas tiveram maior número também em 8:00 – 8:30 (223 indivíduos) da manhã e em 16:00 – 16:30 (281 indivíduos) da tarde (Tabela 3). Na espécie C. quadrifidum, as fêmeas paríparas somaram 967 e as nulíparas 310 (p = 0,09). No período matutino foram obtidas 428 paríparas e 129 nulíparas, enquanto que no período vespertino, 539 foram paríparas e 181 nulíparas. Os horários de maior atividade hematofágica das paríparas foram entre 7:00 – 7:30 (244 indivíduos) da manhã e 17:00 – 17:30 (288 indivíduos) da tarde (Tabela 3). Resultados similares foram encontrados por Medeiros e Py-Daniel (1999) com C. oyapockense, e N. exiguua, por Medeiros (2001), que observou um maior número de paríparas no período da tarde em C. oyapockense e por Py-Daniel et al. (1999) na espécie T. guianense. Os mesmos autores, no entanto, encontraram maior abundância de nulíparas no período matutino. A alta paridade de C. pydanieli em relação a C. quadrifidum pode ser devido à facilidade de encontrar o hospedeiro e realizar repasto sanguíneo, pois a população de Pedras Negras é exposta diariamente às atividades de picada. Esta última espécie, apesar de também mostrar maior percentagem de fêmeas paríparas (75,8%), tem primariamente, hábitos zoófilos (Tidwell et al., 1981). Neste estudo, no entanto, a antropofilia de C. quadrifidum foi relatada. Tanto  na  estação  chuvosa  (novembro  a  maio)  quanto  na  estação  seca (junho  a outubro), a maior amostragem foi de fêmeas paríparas em relação às nulíparas (Figuras 8 a 11). (p = 0,0006). No período das chuvas, picos de atividade de C. pydanieli, tanto em paríparas quanto em nulíparas, foram observados nos horários de 8:00 - 8:30 (661 indivíduos) matutinas e em 14:00 -14:30  (730 indivíduos) e 16:00 – 16:30 (819 indivíduos) vespertinas (Figura 8). As fêmeas paríparas e nulíparas de C. quadrifidum tiveram picos nos horários 7:00 – 7:30 (311 indivíduos) da manhã e 16:00 – 16:30 (373 indivíduo) da tarde (Figura 10). Similarmente a esses resultados, Medeiros (2001) observou que as fêmeas paríparas e nulíparas da espécie C. argentiscutum apresentam maior atividade no período vespertino, de 13:00 a 16:00. Na estação seca, as fêmeas paríparas e nulíparas de C. pydanieli apresentaram pico máximo de atividade no horário de 11:00 – 11:30 (441 indivíduos) da manhã e pela tarde, entre 15:00-15:30 (263 indivíduos) (Figura 9). A espécie C. quadrifidum teve baixa amostragem na estação seca (8 indivíduos), tendo maior atividade entre 8:00 – 8:30 da manhã (2 indivíduos) e em 15:00 – 15:30 da tarde (2 indivíduos). Não foram coletados indivíduos nos horários 6:00 – 6:30 e de 09:00 a 11:00 – 11:30 da manhã, e, pela tarde, 12:00 – 12:30, 13:00-13:30, 16:00 – 16:30 e 18:00 – 18:30 também foram nulos (Figura 11). Esses dados se ajustam também com os dados de Medeiros (2001) que demonstram que C. argentiscutum tem maior abundância de paríparas e nulíparas no período da manhã, entre os primeiros horários, isto é, de 6:00 a 7:45. Andreazze (1999) observa que o total de fêmeas coletadas entre os períodos seco e chuvoso são similares, no entanto, na estação chuvosa há predominância de paríparas com relação às nulíparas.













Taxa de Infecção Parasitária (TIP) das fêmeas por Mansonella ozzardi



Das 76,5% fêmeas paríparas, 66 apresentaram positividade para M. ozzardi, com uma taxa de infecção (TIP) de 0,7%. A espécie C. pydanieli teve 64 exemplares positivos, com TIP de 0,8%. Já a espécie C. quadrifidum, coletada em menor número, teve 2 exemplares positivos, apresentando TIP de 0,2% (Tabela 4; Figura 12).






Foram encontradas fêmeas de C. pydanieli com algum nível de infecção (L1 L2 e L3) em todos os meses de coleta exceto setembro e outubro, com maiores TIP nos meses de julho e agosto, período de seca na região (Tabela 5; Figura 12). O total de filárias encontradas foi 106, sendo as fêmeas com L3 coletadas em maior número (40), indicando considerável risco de transmissão de M. ozzardi em comparação com outros achados (Medeiros & Py-Daniel, 1999; Medeiros & Py-Daniel, 2004) da mesma natureza. Não foram encontradas formas de microfilárias, o que pode indicar não haver infecção em humanos ou que a microfilaremia é ainda muito baixa para ser perceptível.







Shelley & Shelley (1976), em estudo no município de Lábrea, Estado do Amazonas, encontraram uma taxa de infecção natural para S. amazonicum [= C. amazonicum] de 0,99% coletados em humanos e bovinos, com apenas um indivíduo apresentando L3. Em coletas na área indígena Ticuna, no Rio Solimões (Amazonas), Shelley et al. (1980) observaram para a mesma espécie e para Simullium n. sp [= C. argentiscutum] taxas de infecção natural de 3,1% (do total de 32 indivíduos coletados, 1 indivíduo com L3) e 9,7% (4 piuns com L1, 2 piuns com L2 e 4 piuns com L3), respectivamente; em estudos com a mesma espécie, Medeiros (2001) encontrou taxas parasitárias de 0,06% em Porto Japão, município de Manacapuru, Estado do Amazonas. Nathan et al. (1982) encontraram naturalmente infectados indivíduos de S. minusculum [= C. amazonicum], com taxa de infecção parasitária de 2%, sendo 3 piuns infectados com L1 e 4 piuns com L2. Martins et al. (2010) observaram  taxa  de  infecção  de 5,6% (de 498 piuns capturados, havia 16 piuns com L1, 11 piuns com L2 e 1 pium com L3) Maiores taxas de infecção parasitária foram observados por Cerqueira (1959) também com S. argentiscutum [= C. argentiscutum], com 18,5% em estudo realizado na cidade de Codajás, Estado do Amazonas. Ao comparar as taxas de infecção acima com as encontradas neste estudo, é observado que a os valores encontrados paras as duas espécies não são alarmantes, mas, ao se considerar o número total de simulídeos coletados entre C. pydanieli e C. quadrifidum, foi observado que ambas as espécies suportam o desenvolvimento das formas larvais de M. ozzardi e podem ser consideradas aptas a transmitir mansonelose na região do Vale do Guaporé. Não foi possível relacionar as taxas de infecção achadas com prevalência humanas, que não foram abordadas neste trabalho.


Potencial de Transmissão Anual (PTA)


Expresso pelo número de larvas metacíclicas (L3) transmitidas a uma pessoa exposta ao vetor durante o período de 1 ano. Para o cálculo, obteve-se antes a taxa mensal de picadas (TMP) com o total de fêmeas (TMP1) e somente com as paríparas (TMP2). Foi encontrado um TMP1 total de 67.786,75 e um TMP2 total de 51.789. Para C. pydanieli, o TMP1 foi 58.173,75 e o TMP2 44.381,5. Para C. quadrifidum, o TMP1 foi 9.624,54 e o TMP2 7.290,25.Para ambas as espécies, os meses de abril (estação chuvosa) e junho (estação seca) apresentaram maior valor das TMPs (Tabela 6).






Em estudos realizados por Medeiros (2001) em Porto do Japão, foi verificada uma TMP1 124.521,25 e TMP2 de 87.348,75 para a espécie C. argentiscutum. Obtidos os TMP1 e TMP2, tem-se o potencial de transmissão mensal (PTM) e anual (PTA) em que apenas as fêmeas co larvas metacíclicas são consideradas. Os maiores PTMs foram percebido no mês de fevereiro, com PTM1 de 73,80 e PTM2 de 67,02, indicando que nesses meses a população local está mais susceptível à possibilidade da transmissão de filárias (Tabela 7). No quadro geral, o PTA1 foi de 320,06 enquanto que o PTA2 foi de 246,11. A espécie C. pydanieli teve um PTA1 de 340,27 e PTA2 de 251, com 8 meses de ocorrência, em que foram encontradas fêmeas com larvas metacíclicas (L3). A espécie C. quadrifidum obteve um PTA1 de 59,91 e PTA2 de 45, com 1 mês de ocorrência (abril). Medeiros & Py-Daniel (2004) observaram em Porto do Japão um PTA de 7,25 para C. argentiscutum, valor baixo quando comparado com os obtidos neste estudo. Exemplares infectados com L3 foram encontrados mais acentuadamente nos meses chuvosos, no entanto, também houve nos meses de seca (Tabela 8). Para C. pydanieli, fêmeas infectadas com L3 ocorreram nas duas estações, cheia e seca. Já para C. quadrifidum, apenas 1 ocorrência na cheia. Os altos valores observados nesse estudo indicam que C. pydanieli é um vetor em potencial de Mansonelose na região do Vale do Guaporé. No entanto, não foram estudadas populações humanas a fim de verificar a presença de microfilárias no sangue neste trabalho. Basano et al. (2011) investigaram populações humanas e de simulídeos ao longo dos principais rios do Estado de Rondônia, incluindo o Rio Guaporé, não encontrando pacientes positivos para a doença, indicando que pode haver baixa microfilaremia na região. Os dados do referido autor contrastam com os achados neste estudo, indicando que há possibilidade de haver focos de Mansonelose no Vale do Guaporé ainda não identificados e que, portanto, há necessidade de nova investigação humana na região.





Influência dos fatores climáticos na atividade hematofágica



Os  fatores  climáticos  temperatura  e  umidade  influenciaram  significativamente  a espécie C. pydanieli (p = 0,01 e p = 0,04 respectivamente): houve maior atividade hematofágica com elevação da temperatura e a diminuição de umidade. Os demais fatores não apresentaram correlações significativas com o número de simulídeos. Medeiros  &  Py-Daniel  (1999)  observaram  que os fatores  temperatura, umidade relativa do ar e pressão atmosférica exerceram maior influência na atividade hematofágica de C. oyapockense, em Xitei/Xidea, Estado de Roraima. Andreazze & Py-Daniel (1999), também em estudos em Xitei/Xidea, verificaram correlações positivas na atividade de picadas com os fatores  temperatura,  pressão  atmosférica  e luminosidade,  e  correlação negativa com  a umidade, sendo que temperatura, umidade e pressão atmosférica foram os fatores que maior influenciaram, de modo geral, durante todo o período de atividade de P. incrustata. Em Porto do Japão, Estado do Amazonas, Medeiros et al. (2006)  notaram que a umidade e a temperatura foram os fatores que mais influenciaram na abundância de C. argentiscutum. Pode-se inferir que essas variáveis afetam a atividade diária dos simulídeos.Na comunidade Pedras Negras, de modo geral, os fatores umidade, nebulosidade e luminosidade tiveram valores maiores na estação chuvosa, estação em que houve maior abundância de simulídeos, enquanto que temperatura e pressão atmosférica apresentaram maiores valores no período da seca (Tabela 8).





A influência da temperatura e umidade na atividade apenas de C. pydanieli pode estar relacionada com maior abundância. Ainda com   relação   a   essa   espécie,   os   fatores   temperatura   e luminosidade demonstraram valores baixos no início do dia, sendo a temperatura mais alta entre 12:00 – 1::30 a 14:00 – 14:30 e a luminosidade mais intensa entre 9:00 – 9:30 e 10:00 – 10:30 da manhã.. A  umidade e  a  pressão atmosférica também apresentaram valores maiores pela manhã, sendo aquela maior entre 6:00 – 6:30, decrescendo ao longo do dia e novamente subindo no final da tarde, e 7:00 – 7:30 e essa entre 9:00 – 9:30 e 10:00 – 10:30. A nebulosidade foi mais alta no horário de 14:00 – 14:30 (Tabela 9; Figura 13). A maior atividade hematofágica ocorreu entre 16:00 – 16:30, quando a temperatura foi de cerca de 30 ºC, umidade em torno de 63% e pressão atmosférica em cerca de 30 mmHg, luminosidade em torno de 409 lux e a nebulosidade em 0,59 (tempo nublado). A menor atividade ocorreu nas primeiras horas da manhã (6:00 – 6:30), com temperatura média amena em torno de 22 ºC e umidade alta de 80%. Na espécie C. quadrifidum é observada a mesma tendência. O maior pico de atividade hematofágica dessa espécie foi durante o horário de 17:00 – 17:30, quando a temperatura ficou  em  torno  de  29  ºC,    a  umidade  em  66%, pressão atmosférica em  29  mmHg, luminosidade menos intensa com 56 lux e o tempo entre limpo e nublado (0,50). A menor atividade foi às 12:00 – 12:30, com temperatura alta de 31,29 ºC, umidade em 61%, 30 mmHg de pressão atmosférica, tempo nublado (0,57) e 532,81 lux (Tabela 9; Figura 14). Medeiros (2001) encontrou maiores picos de atividade de C. argentiscutum no período da tarde (13:30 às 16:00), quando a temperatura média variou de cerca de 31 a 32 ºC, enquanto que o menor pico foi entre 17:30 e 18:00, com variação de 27 ºC a 28 ºC.  Com relação à umidade, os maiores picos de atividade de picada foram quando os valores estavam entre 63% e 66%, com menos atividade quando os níveis de umidade atingiram entre 71% e 75%. A luminosidade com valores entre cerca de 4427 lux a 8621 lux apresentou maior abundância de piuns, e com valor de 536 lux, menos atividade. Quando a pressão atmosférica atingiu por volta de 30 mmHg (13:00 – 16:00) ocorreu maior atividade hematofágica, assim como com o fator nebulosidade que, no período da manhã, quando o tempo foi classificado em nublado e chuvoso, e de tarde, quando foi considerado limpo, apresentou maior atividade.












Apesar de não haver correlação significativa geral entre os fatores climáticos e as   espécies coletadas, podemos observar que essas atuam no estímulo ao vôo, na busca do reservatório para o repasto e no momento da picada. As atividades de vôo e picada são estimuladas pelas condições ambientais, sendo todos  os  fatores,  em  maior  ou  menor  escala  responsáveis  influenciar  ou afetar  essas atividades. As curvas opostas dos fatores temperatura e umidade relativa do ar mostram que a atividade é maior quando há maior temperatura e menos umidade, sendo o contrário também verdadeiro, obtendo-se assim há uma combinação direta entre atividade de vôo, elevação de temperatura e diminuição da umidade ao longo do dia e supondo-se que estas condições atuam no estímulo de vôo, procura por fontes para o repasto sanguíneo (no caso das espécies antropófilas em questão, a população residente) e no momento da picada.



Considerações finais



Foram encontradas infectadas naturalmente por Mansonella ozzardi duas espécies de simulídeos: Cerqueirellum pydanieli e Coscaroniellum quadrifidum indicando que há possibilidade de transmissão na Região do Vale do Guaporé. Houve predomínio de paríparas em detrimento das nulíparas, o que possivelmente mostra que a paridade está estritamente relacionada à antropofilia e capacidade de realizar o ciclo gonotrófico em curto espaço de tempo por haver criadouros muito próximos. Foram registradas larvas metacíclicas em C. pydanieli indicando a importância epidemiológica da espécie. Foi registrada antropofilia na espécie C. quadrifidum, primariamente considerada zoófila. Além disso, a espécie também apresentou infecção com larvas L3, presentes em 1 exemplar, o que indica que a espécie comporta todo o desenvolvimento das larvas de Mansonella ozzardi atribuindo importância médica e epidemiológica à espécie. As taxas de infecção parasitárias foram consideradas baixas. As taxas mensais de picadas foram elevadas, principalmente nos meses de chuva, o que torna as espécies incômodas à população durante a estação. As espécies se mostraram possivelmente afetadas pelo regime de chuvas, pois, C. pydanieli tem oviposição associada a rios de grandes vazões, enquanto C. quadrifidum é associado a igarapés. O potencial de transmissão para as espécies foi considerado alto, fato que indica que ambas  podem  estar envolvidas na  transmissão  de  Mansonella  ozzardi  no  Vale  do Guaporé. O período de final das chuvas e início da seca na região foi o qual obteve maior amostragem do total de simulídeos. Entre os fatores climáticos, temperatura e umidade mostraram maior influência na atividade hematofágica de C. pydanieli. Os outros fatores atuam secundariamente, pois mesmo não havendo significância entre eles e as espécies, há uma tendência que aponta que esses atuam em conjunto e assim, interferem na atividade de picada das espécies.



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{Publicado em 06.05.2015}