domingo, 3 de janeiro de 2016

simulideos - vetores - 2

Este trabalho é produto do relatório final (no ano 2001) de uma bolsa fornecida pelo INPA/CNPq para o biólogo Luis Henrique Monteiro Gomes, orientado pela minha pessoa (V.Py-Daniel), o qual usou os dados coletados no ano de 1994 (levantamento pré-tratamento), pela equipe do LABONCO, para a epidemiologia do Programa Brasileiro de Controle da Oncocercose, na época coordenado pelo INPA/LABONCO para o Ministério da Saúde do Brasil.


INFECÇÃO NATURAL DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) (NEMATODA, ONCHOCERCIDAE) PELA ESPÉCIE NOTOLEPRIA EXIGUUA (ROUBAUD, 1906) (DIPTERA, SIMULIIDAE), NO POLO BASE DE SAÚDE DE ERICÓ, TERRA INDÍGENA YANOMAMI  / YE´KUANA, RORAIMA, BRASIL.

Gomes,L.H.M.1; Py-Daniel,V.2*; Barbosa,U.C.2**; Silva,O.S.2**; Junior,E.L.2***; Passos,M.C.V.4 & Colás,A.5

Palavras Chaves: Infecção Natural; Oncocercose; Notolepria exiguua; Ericó; Roraima; Brasil.

1 -  Bolsista PCI (INPA/CNPq); 2 – INPA/CPEN/LABONCO (*Atualmente associado a UNB/ICB/DZ/LEF, ** Atualmente INPA/LETEP, 2*** - Atualmente INPE/CRH/DGP); 4 – Atualmente UFRR; 5 – nas época Bolsista do INPA/CNPq).   


RESUMO

Estudo desenvolvido na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, no Pólo Base de Ericó, rio Uraricaá, Roraima, Brasil, visando determinar a Taxa de Infecção Parasitária (TIP) por Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) por Notolepria exiguua (Roubaud, 1906). Foram obtidos dados para a atividade hematofágica e o estado fisiológico ovariano. Os resultados demonstraram que  de Notolepria exiguua (Roubaud, 1906) exerceu atividade de picada durante todo o dia, tendendo uma maior hematofagia no período da tarde. Foi coletado um maior número CE fêmeas paríparas. A Taxa de Infecção Paraisitária (TIP) foi de 8,93%, demonstrando uma elevada eficiência de simulídeo na transmissão da O. volvulus no Polo-Base de Saúde de Ericó.

ONCOCERCOSE

Segundo Barranco & Mallén (1968), a confirmação da doença causada pela filaria foi feita pelo Dr. Rodolfo Robles em 1917, na Guatemala, quando, após estudar um paciente com enrijecimento e inchaço persistente na pele, suspeitou que fosse uma doença parasitária. Examinando outra pessoa da mesma localidade que apresentava intensa fotofobia e diminuição de acuidade visual, extirpou-lhe um tumor onde encontrou uma filaria, O mesmo se confirmou com outros habitantes da localidade e assim, novos casos foram descobertos e a filaria foi identificada como sendo O. volvulus (Leuckart, 1893).

Oncocercose é uma enfermidade causada por uma filaria denominada Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) que ocasiona danos na pele e pode chegar a produzir graves alterações nos olhos, causando inclusive a cegueira. Os transmissores desta filaria são insetos da família Simuliidae, comumente denominados no Brasil de: piuns (no norte do pais) e borrachudos (no restante do pais) (Py-Daniel, 1997).

As fêmeas adultas de O. volvulus são vivíparas e passam grande parte de sua vida (aproximadamente 12 anos) produzindo milhões de microfilárias. Estas microfilárias possuem grande capacidade de locomoção e migram através da derme e outros tecidos, podendo causar lesões graves, como a despigmentação e perda da elasticidade da pele, tornando-a grossa e enrugada, principalmente a pele do rosto, orelhas e virilhas (Figura 01.). Os indivíduos infectados podem apresentar também nódulos subcutâneos de tamanho variável, cuja a localização também é variável. (Neves, 1991; WHO, 1991). Nos pacientes do México e Guatemala, os nódulos são encontrados nas partes superiores do corpo, principalmente no couro cabeludo (Figura 02.). Na Venezuela, Colômbia e continente africano, os nódulos são vistos no tórax, nádegas e cotovelos (Neves, 1991). Acredita-se que a distribuição dos nódulos tenha relação com a preferencia dos vetores para sugar nas partes altas ou baixas do corpo (Moraes & Fraiha, 1976).

A  formação destes nódulos em locais próximos aos olhos, pode determinar com mais facilidade a cegueira. Esta ocorrência é conseqüente da invasão nos tecidos do globo ocular pelas microfilárias, determinando vascularização da córnea e ceratite (inflamação da córnea). A sintomatologia da doença está relacionada com a intensidade de infecção em uma comunidade, como também pelo número de microfilárias parasitando a pele (WHO, 1991).

A oncocercose é um sério de saúde pública, embira exista um medicamento – Ivermectina – que mata as microfilárias.

A maior dificuldade é o tempo de tratamento, durando entre 10-12 anos, com aplicações semestrais ou anuais, tempo necessário para ocorrer a morte das filarias adultos no organismo humano.


Figura 01. – Indígena Yanomami apresentando a região posterior do tórax com a pele tipo-elefante (enrugada), causada pela infecção de O. volvulus. (foto de V.Py-Daniel, tirada no Pólo Base de Sáude Xitei/Xidea)

Figura 02. – Indígena Yanomami apresentando um nódulo oncocercótico na região póstero-lateral da cabeça. (foto de V.Py-Daniel, tirada no Pólo-Base de Sáude Xitei/Xidea)


ONCOCERCOSE NO MUNDO


Segundo a River Blindness Foundation (RBF, 1993), a enfermidade está presente em 26 paises no continente africano, seis países na América Latina e um na Ásia. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), nos seis países da América Latina (Venezuela, Colômbia, México, Guatemala, Equador e Brasil) aproximadamente 5,25 milhões de indivíduos estão na área de risco, com mais de 97.000 infectados. Dados de 1993, da América Latina, sugerem que mais de 1.400 indivíduos estejam cegos como resultado da oncocercose.

A grande maioria dos casos no continente africano, onde a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 79 milhões de indivíduos estão na área de risco e cerca de 16 milhoes estão infectados, com 1/4 a 1/3 vivem do na Nigéria. Os dados de 1987 sugeriam que mais de 350.000 indivíduos estavam cegos como resultado da oncocerose.

As áreas de foco da oncocercose tanto no México-Guatemala quanto Brasil-Venezuela SAP áreas montanhosas e habitadas por etnias de origem americana. As áreas endemic as da oncocercose na Guatemala e México SAP habitadas por indivíduos que tem a sua fonte de vida associada à cultura do café, as migrações entre as áreas oncocercóticas tem como base esta atividade. No Brasil, há ocorrência da oncocercose nos estados do Amazonas e Roraima, nas áreas indígenas Yanomami/Ye´kuana, na fronteira com a Venezuela. Estas áreas focais (Brasil/Venezuela), são habitadas por populações indígenas que não estão inseridas no mercado capitalista, e as migrações dentro desta área, tem como base apenas a procura de alimento (vegetal e/ou animal), trocas de locais para habitação e trocas inter-comunitárias de bens e relações (Py-Daniel, 1994a).

Os focos da oncocercose no Equador e Colômbia são os menores das Américas. A Colômbia apresenta um foco restrito a área isolada do rio Micay, onde a prevalência é baixa (15%) com raras manifestações clinicas. O vetor principal é a espécie Notolepria exiguua e a população local é predominantemente negra (D´Alessandro, 1985). O foco equatoriano está situado na Província de Esmeralda, onde existe uma população constituída principalmente de negros e mulatos. A maioria das pessoas está livre de manifestações clínicas sérias. O principal vetor para esta região é Notolepria exiguua.


ONCOCERCOSE NO BRASIL

O único foco brasileiro de oncocercose, oficialmente aceito, situa-se nas montanhas do extremo norte do país, onde a doença acontece entre os indígenas Yanomami e Ye´kuana. Acredita-se que a oncocercose tenha sido introduzida pelo lado venezuelano. No Brasil, a área focal da oncocercose está localizada nos Estados do Amazonas e Roraima (Moraes et al., 1973; Moraes & Chaves, 1974; Py-Daniel, 1997).

Bearzoti et al. (1967) relataram o primeiro caso de oncocercose adquirida no Brasil, em uma criança, filha de missionários estrangeiros, procedentes da área Yanomami, em Roraima.

No início da década de 70, Moraes & Dias (1972), Moraes et. al. (1974) e trabalhos subseqüentes, evidenciaram o foco e a forma endêmica da oncocercose na área indígena Yanomami / Ye´kuana. Com a criação do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSY) e com a adesão do Brasil a proposta de eliminação da oncocercose nas Américas, o programa de controle do Brasil pode ser viabilizado.

As atenções sobre o foco Yanomami / Ye´kuana mudaram quando Gerais & Ribeiro (1986) relataram o primeiro caso autóctone de oncocercose fora da área indígena, em Minaçú, Estado de Goiás, cidade com grande número de garimpeiros que saíram de Roraima, provindos em sua maioria da Serra de Surucucus (área Yanomami). A paciente nunca esteve na área indígena Yanomami / Ye´kuana, e possivelmente adquiriu a doença nessa região que compreende o alto curso do rio Tocantins.

Py-Daniel (1989) relatou um caso de oncocercose em um padre francês, proveniente da Africa Ocidental, que viveu entre 1938 e 1972, na cidade de Tefé (Amazonas), com oncocercose durante todo o tempo.

Segundo Py-Daniel (1989 e 1994a), a dispersão da oncocercose no Brasil  estava ocorrendo tanto pelos missionários, como por funcionários da FUNAI, como também por diferentes etnias, além de garimpeiros, que já era conhecida. Também alertou para que os membros constituintes do Exército Brasileiro, por já estarem se fixando na área Yanomami / Ye´kuana, através dos pelotões de fronteira (tanto no Estado de Roraima como no Amazonas), possivelmente estariam envolvidos como futuros dispersores da O. volvulus (Leuckart, 1893), caso não fossem tomadas as devidas providencias quanto aos exames obrigatórios antes de se deslocarem dentro da mesma área ou entre outras áreas às quais tenham que continuar as missões referentes a esta profissão. No final do ano de 1989 foi efetivada a retirada de uma grande quantidade de garimpeiros da área Yanomami / Ye´kuana através de uma atividade conjunta entre as Forças Armadas, Policia Federal e FUNAI.

Não existem informações fidedignas quanto a quantidade de garimpeiros retirados da área, mas existe um consenso que foram números superiores a 20.000 indivíduos, e que mesmo sendo as autoridades responsáveis alertadas para a necessidade de serem feitos exames parasitológicos para se diagnosticar a presença de O. volvulus, em todos os garimpeiros retirados da área, os mesmos não foram feitos. A maior parte destes garimpeiros estava trabalhando em áreas hiper e mesoendemicas para oncocercose. Este número elevado de garimpeiros, está e/ou esteve amplamente espalhado, em sua maior parte em outras áreas de garimpo de todo o Brasil (Pará, Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Tocantins), além de outras áreas nos próprios Estados do Amazonas e Roraima. Nestas áreas também ocorrem os vetores da O. volvulus. Muitos garimpeiros também procuraram áreas em outros países, como Guiana e Suriname.

Py-Daniel (1994b) durante levantamento epidemiológico (entomológico e parasitológico), de agosto de 1993 à abril de 1994, na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, no Estado de Roraima-Brasil, assinalou três novos casos de oncocercose em pessoas que não tinham origem Yanomami e nem Ye´kuana, sendo estas funcionários da FUNAI (Fundação Nacional do Indio) que trabalhavam em postos indígenas.

PROGRAMA DE CONTROLE DA ONCOCERCOSE NO BRASIL

(08.1993-08.1995)


Segundo a River Blindness Foundation (1993) o Programa de Eliminação da Oncocercose para as Américas (OEPA) é uma iniciativa multi-nacional, multi-agencial e multi-doadora para eliminar a Oncocercose como ameaça à Saúde Pública nas nações da América Latina aonde é endêmica: México, Guatemala, Equador, Colômbia, Venezuela e Brasil.

“O Programa iniciou em 1991 com o envolvimento dos Ministérios da Saúde dos seis países, da OPAS, da Fundação Cegueira dos Rios, da Fundação Carter e outras Organizações Não-Governamentais, locais e internacionais, direcionadas ao combate da Oncocercose.”

“Em 1991, representantes dos Ministérios da Saúde dos seis países e este grupo diversificado de organizações fizeram a Primeira Conferência Inter-Americana de Oncocercose (IACO-91). Os participantes desta reunião concluíram que a Oncocercose poderia ser eliminada como uma ameaça para a Saúde Pública no Hemisfério Oeste, se a população sob risco, fosse tratada com Mectizan (Ivermectina) por um período de 10-15 anos.

O INPA foi convidado para coordenar, para o Ministério da Saúde, dentro do Programa de Eliminação da Oncocercose para as Américas, o segmento de epidemiologia, transmissão (envolvimentos entre vetores e o ser humano) na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana.

O Programa brasileiro, na sua parte dinâmica de obtenção dos dados de campo, apenas iniciou suas atividades em agosto de 1993, com o desenvolvimento de trabalhos na área de Entomologia (INPA), Parasitologia (INPA/FNS) e Oftalmologia (FUA/FNS).

No período de dois anos (agosto de 1993 à agosto de 1995) foram feitos, na quase totalidade dos Pólos-base da Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, os levantamentos primários de Entomologia (determinação das espécies antropófilas, detecção dos criadouros dos simulideos, determinação da Taxa de infecção Natural (TIP), determinação da idade fisiológica ovariana das fêmeas com atividade de picada no ser humano), de Parasitologia (no inicio o diagnóstico dermatológico, associado ao exame parasitológico, posteriormente apenas o parasitológico, através de biópsia de pele). O segmento Oftalmológico, quanto a obtenção de dados de campo, apenas foi desenvolvido no segundo semestre de 1993, e ficou restrito a alguns Pólos-Base (Paapiú, Surucucu, Xitei/Xideia, Homoxi).

A Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana compreende no Brasil, a região montanhosa do escudo das Guianas, divisor de águas entre as bacias hidrográficas do rio Orinoco (Venezuela) e do rio Amazonas (Brasil). Segundo Py-Daniel (1997), no Brasil, os Yanomami e Ye´kuana vivem em aproximadamente 188 comunidades, distribuídas em 27 Pólos-Base de Saúde (26 Yanomami e 1 Ye´kuana) em uma área contínua de 9.400.000ha.

Segundo Py-Daniel (1997), no censo de agosto de 1995 (FNS/DSY-RR) o número de indivíduos para a etnia Yanomami, no Brasil, foi de 9.384 indivíduos (26 Pólos-Base), sendo 3.564 (38%) indivíduos (nove Pólos-Base) estavam no Amazonas e 5.820 (62%) indivíduos (17 Pólos-Base) em Roraima. A área Yanomami no Estado de Roraima é mais extensa do que no Estado do Amazonas. Os 27 Pólos-Base de Saúde eram assistidos por entidades governamentais (FUNAI, FNS) e não governamentais (MEVA, CCPY, Salesianos, Diocese, etc.).

A população Ye´kuana censada no Brasil em agosto de 1995 (FNS) era de 257 individuos, distribuídos entre dois Pólos-Base (Auaris com 200 indivíduos e Waikás com 57 indivíduos), todos localizados no Estado de Roraima.

Dentro do Programa Brasileiro de Controle da Oncocercose, trabalhos mais extensos com vetores da filaria O. volvulus, na área Yaononami / Ye´kuana, foram desenvolvidos por Medeiros & Py-Daniel (1999) e por Andreazze & Py-Daniel (1999), onde estudaram a transmissão desta filaria durante o período de uma ano no Pólo-Base Xitei/Xidea, em Roraima.

EPIDEMIOLOGIA

O estudo da epidemiologia da oncocercose em qualquer região, envolve variáveis como densidade demográfica, densidade do vetor, prevalência dos infectados, caracteristicas biológicas do vetor (capacidade de ingestão de microfilárias, longevidade, etc.), estrutura etária da população, localização dos criadouros de simulideos, fatores sociais que interferem no contato homem-vetor (costumes de uma comunidade). Deve-se considerar também o numero de fêmeas de simulideos picando em uma população em um dado período de tempo, em função da estação do ano, pluviometria, temperatura, umidade e vegetação (Cordero-Moreno, 1973).

Segundo Davies & Crosskey (1991), a oncocercose é uma doença razoavelmente conhecida, as espécies de simulideos envolvidas na transmissão da doença variam de lugar para lugar, e a área total de distribuição destas espécies são frequentemente maiores do que as áreas em que elas atuam como vetoras da filaria O. volvulus.

Dentro dos trabalhos desenvolvidos na área Yanomami / Ye´kuana, no período de agosto de 1993 até agosto de 1995, foram coletadas 26 espécies de simulideos, em 10 gêneros, sendo que 12 espécies apresentaram antropofilia. Para o Brasil, apenas 4 espécies estão envolvidas na transmissão de O. volvulus: Thyrsopelma guianense (Wise, 1911), Psaroniocompsa incrustata (Lutz, 1910), Notolepria exiguua (Roubaud, 1906) e Cerqueirellum oyapockense (Floch & Abonnenc, 1946) (Py-Daniel, 1997).

Segundo Py-Daniel (1997), dos 26 locais trabalhados na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, no período de 08.1993 a 08.1995, 14 locais apresentaram positividade para O. volvulus, Em oito dos 26 locais, a espécie N. exiguua esteve presente, sendo que em dois locais (Xitei/Xidea e Ericó) esta espécie apresentou positividade para O. volvulus com TIP = 9, o maior na somatória das áreas estudadas.

Seguindo a convenção do Programa de Eliminação da Oncocercose para as Américas (OEPA), em relação as diferenciações dos níveis de endemicidade (0% - área não endêmica; 1-20% - área hipoendemica; 21-59% -0 área mesoendemica; 60% ou mais – área hiperendemica), o Pólo-Base de Ericó é classificado como sendo hipoendemico, existindo duas espécies vetoras da oncocercose nesta localidade, Cerqueirellum oyapockense (Floch & Abonnenc, 1946) e Notolepria exiguua (Roubaud, 1906), tendo está última maior atividade hematofágica.

Neste trabalho foram abordadas algumas informações sobre N. exiguua, tanto ao nível de atividade de picada quanto a infecção natural.

O objetivo deste trabalho foi determinar a Infecção Natural por O. volvulus da espécie N. exiguua, no Pólo-Base de Ericó, na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, bem como a Taxa de Infecção Parasitária (TIP) da mesma, por meio de experimentos completos de um dia (12 horas) de captura.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na Terra indígena Yanomami / Ye´kuana, Pólo-Base de Saúde Ericó, rio Uraricaá, estado de Roraima, Brasil (Figura 03.).

Figura 03. – Mapa dos Polos-Base da Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, que abrange os Estados do Amazonbas e Roraima, indicando o Pólo-Base de Ericó, onde foram feitas as coletas dos exemplares de N. exiguua (Roubaud, 1906).


As coletas foram realizadas em um único dia (11.03.1994), sendo iniciadas as 7:30h e finalizadas as 18:30h, alterando-se 15 minutos de captura por 15 minutos de descanso.

Os simulideos foram capturados com auxilio de um coletor de sucção, assim que pousassem sobre o colaborador.

Entre os intervalos dos períodos de captura eram feitos os exames do estado fisiológico ovariano: as fêmeas eram anestesiadas com vapor de clorofórmio e em seguida retiradas do tubo coletor, sendo levadas ao microscópio estereoscópico e colocadas sobre laminas escavadas com uma gota de soro fisiológico, onde a espécie era identificada, seguida da atividade de puxar os últimos segmentos abdominais com ajuda de estiletes (Kamm & Ritcher, 1972), onde era observado estado fisiológico ovariano (nuliparos / pariparos). As fêmeas nuliparas, são fêmeas que ainda não produziram ovos, e as paríparas já tendo realizado repasto sanguineo e postura de ovos (Detinova, 1968). Após esta análise colocou-se as fêmeas em tubos de ensaio com álcool 70%, sendo estes etiquetados para posterior análise no laboratório. No laboratório, foi retirado todo o álcool contido em cada tubo de ensaio onde estavam as fêmeas, com auxilio de uma pipeta e lavadas posteriormente com água destilada para retirar o excesso de álcool. Em seguida retirou-se a água destilada e colocou-se hematoxilina ácida para coloração. Por um período de 48 horas. Este método visa não só a coloração dos músculos dos simulideos, mas também  a coloração das filarias (Nelson, 1958). Passado este período, retirou-se a hematoxilina, com ajuda de uma pipeta, e posteriormente lavou-se com água destilada, retirando-se a água e o material ficando pronto para dissecção e preparo das laminas.
As dissecções foram feitas utilizando-se micro-estiletes finos, onde os simulideos eram divididos em três partes (cabeça, tórax e abdome) colocadas sobre três pequenas gotas de glicerina (uma parte do simulideo em cada gota) sobre uma lamina para retirar a cutícula deixando apenas os músculos e partes internas, sendo em seguida sobrepostas por lamínulas. Ficando a lamina pronta para a leitura e identificação da presença de filarias (Davies & Crosskey, 1991).

A leitura das laminas foi feita sob microscópio óptico, onde foi observado se as fêmeas estavam infectadas filarias ou não. A identificação das fases de O. volvulus (MF, L1, L2 e L3) foi feita segundo Ramírez-Pérez (1977). Após a avaliação da lamina, os dados foram anotados em uma planilha própria.

Após a identificação dos estágios larvais, obteve-se a Taxa de Infecção Parasitária (TIP). A TIP pode ser obtida a partir das seguintes fórmulas:

Figura 04. – Fórmulas para obter as Taxas de Infecção Parasitária (TIP).


RESULTADOS E DISCUSSÕES


A densidade de picada das fêmeas de N. exiguua no Pólo-Base de Ericó (área hipoendemica) foi observada durante um dia de coleta (11.03.1994) totalizando 382 fêmeas capturadas. A densidade de picada é definida como sendo o número de picadas contabilizado por homem e por unidade de tempo. (Narbaiza, 1987).

Segundo Py-Daniel (1997), em certas épocas sazonais, pode existir um equilíbrio entre o número de indivíduos das diferentes espécies com atividade hematofágica. Isto ocorre nas duas épocas de transição hídrica dos criadouros (na passagem da cheia para vazante, e na passagem da seca para enchente), e está fundamentada na disponibilidade dos diferentes substratos explorados pelas diferentes espécies. Py-Daniel & Rapp Py-Daniel (1998), citam que os criadouros preferenciais da espécie N. exiguua são plantas não aquáticas, que ficam pendentes nas margens e/ou caídas no leito dos cursos d´água, ocasionalmente podem ser encontradas também em plantas da família Podostemaceae. Os mesmos autores relatam que na época de transição da seca para enchente, começa o aumento do número de exemplares cujas espécies exploram o substrato vegetativo, como no caso da espécie N. exiguua, e a diminuição do número dos exemplares que exploram os substratos formados na transição de cheia para vazante (substratos rochosos).

Em estudos realizados por Medeiros & Py-Daniel (1999) e Andreazze & Py-Daniel (1999), em 12 meses de coletas, no Pólo-Base de Xitei/Xideia (área hiperendêmica), foram coletadas as quatro espécies envolvidas na transmissão da O. volvulus, entre elas N. exiguua (Roubaud, 1906), que ocorreu em menor número na atividade hematofágica, sendo os exemplares coletados somente nos meses de junho e julho de 1996, ou seja, na estação chuvosa (este período apresentou-se com uma elevada cheia do rio Parima, o que possibilitou a existência de novos substratos e consequentemente colonizações ascendentes desta espécie).

Shelley (1988c), citando trabalhos desenvolvidos na América Latina, relata a ocorrência desta espécie em criadouros tipicamente de baixas altitudes (100m.), com maior abundancia na estação chuvosa. Porter et al. (1988), trabalhando em quatro localidades na Guatemala, verificaram que a prevalência da oncocercose está diretamente relacionada a com a proximidade dos cursos d´água onde existem os imaturos.

DISTRIBUIÇÃO DIÁRIA

Em Ericó, a espécie N. exiguua (Roubaud, 1906) demonstrou atividade de picada durante todo o dia, com maior densidade no período da tarde, com picos nos horários de 16:15-16:30h e 17:45-18:00h (Figura 05.).

Figura 05 - Distribuição diária (11.03.1994) da atividade de picada de Notolepria exiguua, no Pólo-Base de Ericó, Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, Roraima, Brasil.


Resultados semelhantes foram obtidos por Medeiros & Py-Daniel (1999), no Pólo-Base de Xitei/Xidéia, onde relataram que a espécie N. exiguua foi coletada somente no período da tarde.

Segundo Shelley et al. (1997), em revisão de trabalhos para a América do Sul, comentaram que N. exiguua apresenta comportamento de picada variável, com picos de atividade pela manhã e a tarde, sendo que em alguns locais exerce atividade predominantemente após as 12:00h.


ESTADO FISIOLÓGICO OVARIANO

Do total de 382 fêmeas coletadas picando, 291 (76,17%) foram paríparas e 91 (23,83%) foram nulíparas (Figura 06.). Os resultados mostraram também a maior ocorrência de fêmeas paríparas no período da tarde (Figura 07.).

Medeiros & Py-Daniel (1999), no Pólo-Base Xitei/Xideia, também obtiveram resultados semelhantes quando coletaram maior percentual de fêmeas paríparas, principalmente no período da tarde.

Figura 06. – Número de fêmeas coletadas de N. exiguua, relativo ao estado fisiológico ovariano, no Pólo-Base de Ericó, TIY, Roraima-Brasil (11.03.1994).


Figura 07. – Distribuição diária das fêmeas de N. exiguua, relativa ao estado fisiológico ovariano (paríparas e nulíparas), no Pólo-Base de Ericó, TIY, Roraima-Brasil (11.03.1994).


NÍVEL DE INFECÇÃO NATURAL


Na análise da infecção natural no Pólo-Base de Ericó, constatou-se que das 291 fêmeas pariparas coletadas, 26 estavam infectadas com O. volvulus (considerando infecção por microfilária, L1, L2 e L3). Sendo a Taxa de Infecção Parasitária (TIP1) igual a 6,80% e a TIP2 igual a 8,93%.

A Figura 10. mostra o total de fêmeas coletadas sobre o numero de fêmeas infectadas com O. volvulus durante 12 horas de coletas. Foi constatada a presença de fêmeas infectadas exercendo atividade de picada nos dois períodos diários, manhã e tarde, com maior número no período da tarde, com picos nos horários de 16:15-16:30h e 17:45-18:00h. Segundo Py-Daniel (1994a) uma alta densidade de indivíduos picando, de uma espécie, pode apresentar uma mesma efetividade, na transmissão, que outras espécies com facilidades estruturais, que piquem em menor número.

A obtenção das Taxas de Infecção Parasitária (TIPs) através de exames com base em coletas de apenas um dia, como foi realizado neste trabalho, não necessariamente estão relacionadas com às Taxas de Prevalência humanas, obtidas no mesmo dia (Py-Daniel, 1997).

Dentro dos trabalhos desenvolvidos na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, no período pré-tratamento, entre agosto de 1993 a agosto de 1995, a espécie N. exiguua esteve presente tanto em menor número de áreas coletadas (8/26) como em menor número de indivíduos coletados (397/21.420), com a terceira presença (2/14) nos lugares que apresentaram exemplares positivos, mas com a maior TIP = 9, na somatória dos locais (Py-Daniel, 1997). Isto demonstrando que esta espécie apesar de ocorrer em baixa densidade na atividade de picada é extremamente eficiente na transmissão da O. volvulus.

Medeiros & Py-Daniel (1999), no Pólo-Base Xitei/Xidea, obtiveram quatro exemplares de N. exiguua, sendo que três destes eram paríparos e um apresentou positividade, com TIP = 33,3%. Esta Taxa de Infecção Parasitária é considerada elevada, indicando que esta espécie, neste local, se caracteriza como um vetor extremamente ativo e com grande capacidade de transmissão.

Figura 10. – Distribuição do total de fêmeas paríparas coletadas sobre o numero de fêmeas infectadas com O. volvulus, exercendo atividade de picada durante o período de coletas (11.03.1994) no Pólo-Base de Ericó, TIY, Roraima, Brasil.


CONCLUSÕES


A espécie N. exiguua (Roubaud, 1906), no Pólo-Base de Ericó (rio Uraricaá), apresentou atividade de picada durante o dia todo, tendendo a exercer maior atividade hematofágica pela parte da tarde.

A alta densidade de picada de N. exiguua, no Pólo-Base de Ericó pode estar relacionada ao período sazonal de coleta (período de cheia – onde há maior disponibilidade de substrato vegetativo, plantas não aquáticas que ficam pendentes nas margens e/ou caídas no leito do curso d´água).

Houve predominância de fêmeas paríparas sobre as nulíparas, com maior ocorrência de paríparas no período da tarde.

As Taxas de Infecção Parasitárias (TIP1 e TIP2) para N. exiguua, no Pólo-Base de Ericó foram de 6,80% e 8,93% respectivamente. Consideradas elevadas ao nível de transmissão natural, indicam que a espécie, neste local, nesta data, se caracteriza como extremamente ativa e com grande capacidade de transmissão de O. volvulus. A obtenção de altas TIPs (através de coletas de um dia) não necessariamente estão relacionadas com as Taxas de Prevalência humana, obtidas no mesmo dia.

As fêmeas infectadas de N. exiguua exerceram atividade de picada nos dois períodos, manha e tarde, com maior ocorrência no período da tarde.

N. exiguua foi a principal espécie envolvida na transmissão de O. volvulus durante a realização deste trabalho, no Pólo-Base de Ericó.

Na literatura brasileira, poucos trabalhos são encontrados a respeito da biologia de N. exiguua, que apesar de ocorrer em poucos locais com presença de O. volvulus, na Terra Indígena Yanomami / Ye´kuana, é uma espécie com grande capacidade de transmissão.


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