segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MANSONELOSE

Mansonelose - é causada por nematódeos da superfamília Filarioidea, família Onchocercidae.

A mansonelose causada pela Mansonella ozzardi é de origem autóctone das Américas, e já foi assinalada como transmitida tanto por simulídeos (borrachudos, piuns) como ceratopogonideos (maruins, mosquitos pólvora).

A mansonelose causada pela Mansonella perstans é de origem do continente africano e apenas foi assinalada como transmitida por ceratopogonideos.

Existem mais espécies dentro do gênero Mansonella, sendo que no Brasil, até o presente, só foram encontradas estas duas espécies: Mansonella: Mansonella ozzardi, e Mansonella perstans.

Nominalmente este blog está direcionado a "Simuliidae e Epidemiologia", no entanto, em relação as mansonelose, em geral, também trataremos dos assuntos relacionados com Ceratopogoniidae, visto que em outros países a Mansonella ozzardi também tem como vetor os ceratopogonideos. Outra razão para expandirmos as citações e comentários é que na Bacia Hidrográfica do A|to Rio Negro, no Brasil, exite um índice elevado de dupla infecção (M.ozzardi+M.perstans) principalmente nos indivíduos de diferentes etnias indígenas.  

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA-MCTI) ao longo do tempo sempre apresentou estudos referentes a mansonelose (M.ozzardi), e ainda estão sendo gerados trabalhos referentes a mesma. 

Assim, aqui serão apresentados muitos trabalhos já publicados, e outros que representam publicações antes inéditas.


********************************
I. DINÂMICA DE TRANSMISSÃO NATURAL DE MANSONELLA OZZARDI (MANSON) (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) NA COMUNIDADE DE PEDRAS NEGRAS, MUNICIPIO DE SÃO FRANCISCO DO GUAPORÉ, ESTADO DE RONDÔNIA, BRASIL.
Velasques,S.N. & Py-Daniel,V. & Camargo,L.M.A. & Barbosa,U.C. & Barros,W. & Silva,O.S. (publicado em 2015)

http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2015/05/dinamica-de-transmissao-natural-de.html

[Anexos do Trabalho]

http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2015/05/anexos-do-trabalho-dinamica-de.html

********************************
II. OBSERVAÇÕES SOBRE ESPÉCIES DE SIMULÍDEOS VETORAS DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) E MANSONELLA OZZARDI (MANSON, 1897) EM OITO LOCALIZADES DA TERRA INDÍGENA YANOMAMI / YE´KUANA (1994-1995), BRASIL
Gomes,L.H.M. & Py-Daniel,V. & Andreazze,R. & Medeiros,J.F. & Barbosa,U.C. & Silva,O.S. & Junior,E.S.L. (publicado em 2015)

http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2015/12/simulideos-vetores.html

********************************
III. MANSONELOSE
Medeiros,J.F. & Py_Daniel,V. (publicado em 2009)

Esta publicação deverá ser solicitada diretamente para: jmedeiro@gmail.com ou katukina@gmail.com

*******************************
IV. THE INFLUENCE OF CLIMATIC PARAMETERS IN THE HAEMATOPHAGIC DAILY ACTIVITY OF CERQUEIRELLUM ARGENTISCUTUM (SHELLEY & LUNA DIAS) (DIPTERA: SIMULIIDAE) IN AMAZONAS, BRAZIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Izzo,T.J. (publicado em 2006)

Acesso ao PDF

*******************************
V. PREVALENCE OF MANSONELLA OZZARDI AMONG RIVERINE COMMUNITIES IN THE MUNICIPALITY OF LÁBREA, STATE OF AMAZONAS, BRAZIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. (publicado em 2011)

Acesso ao PDF

*******************************
VI. SEASONALITY, PARITY RATES AND TRANSMISSION INDICES OF MANSONELLA OZZARDI (MANSON) (NEMATODA: ONCHOCERCIDAE) BY CERQUEIRELLUM ARGENTISCUTUM (SHELLEY & LUNA DIAS) (DIPTERA: SIMULIIDAE) IN A LOWER SOLIMÕES COMMUNITY, AMAZONAS, BRAZIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. (publicado em 2014)

Acesso ao PDF

*******************************
VII. PRIMEIRO REGISTRO DE SIMULIIDAE (DIPTERA) COM POLINÁRIO DE ASCLEPIADOIDEAE (APOCYNACEAE)
Medeiros,J.F. & Rapini,A. & Barbosa,U.C. & Py-Daniel,V. & Braga,P.I.S. (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

*******************************
VIII. OCORRÊNCIA DA MANSONELLA OZZARDI (NEMATODA, ONCHOCERCIDAE) EM COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO RIO PURUS, MUNICIPIO DE BOCA DO ACRE, AMAZONAS, BRASIL.
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Ogawa,G.M. (publicado em 2009)

Acesso ao PDF

*******************************
IX. MANSONELLA OZZARDI IN BRAZIL: PREVALENCE OF INFECTION IN REVERINE COMMUNITIES IN THE PURUS REGION, IN THE STATE OF AMAZONAS
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Izzo,T.J. (publicado em 2009)

Acesso ao PDF

*******************************
X. EPIDEMIOLOGICAL STUDIES OF MANSONELLA OZZARDI (NEMATODA, ONCHOCERCIDAE) IN INDIGENOUS COMMUNITIES OF PAUINI MUNICIPALITY, AMAZONAS, BRAZIL
Medeiros, J.F. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Farias,E.S. (publicado em 2007)

Acesso ao PDF

*******************************
XI. CURRENT PROFILE OF MANSONELLA OZZARDI (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) IN COMMUNITIES ALONG THE ITUXI RIVER, LÁBREA MUNICIPALITY, AMAZONAS, BRAZIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Ogawa,G.M. (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

*******************************
XII. UMA FILÁRIA POUCO ESTUDADA NO BRASIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. & Pessoa,F.A.C. (publicado em 2006)

Acesso ao PDF

*******************************
XIII. CONSIDERAÇÕES SOBRE SIMULÍDEOS (DIPTERA - SIMULIIDAE) E FILARIOSES (ONCOCERCOSE E MANSONELOSE)
Andrade,H.T.A. & Medeiros,J.F. & Pessoa,F.A.C. & Py-Daniel,V. (publicado em 2003)

Acesso ao PDF

*******************************
XIV. A NEW SPECIES OF CERQUEIRELLUM PY-DANIEL, 1983 (DIPTERA:SIMULIIDAE) AND PROVEN NEW VECTOR OF MANSONELLIASIS FROM THE ITUXI RIVER, AMAZON BASIN, BRAZIL
Pessoa,F.A.C. & Barbosa,U.C. & Medeiros,J.F. (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

*******************************
XV. MANSONELOSE NO ALTO RIO NEGRO
Py-Daniel,V.. (publicado em 2009)

Acesso ao PDF

*******************************
XV. SIMULÍDEOS NOS RIO WAUPÉS E TIQUIÉ NO MUNICIPIO DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS, BRASIL
Ferreira,A.F.T.A.F. & Py-Daniel,V. & Pessoa,F.A.C (publicado 2009)

Acesso ao PDF

*******************************
XVI. ESTUDOS SOBRE A TRANSMISSÃO DE MANSONELLA SPP. (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) POR CULICOIDES SPP. (DIPTERA:CERATOPOGONIDAE) NA COMUNIDADE DE ASSUNÇÃO, RIO IÇANA, AMAZONAS.
Damasceno,C.P. & Py-Daniel,V. & Felippe-Bauer,M.L. (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

*******************************
XVII. CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA MANSONELOSE NO ALTO RIO NEGRO
Py-Daniel,V. & Medeiros,J.F. & Ogawa,G.M. & Megale,M. (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

*******************************
XVIII. DINÂMICA DE TRANSMISSÃO NATURAL DE MANSONELLA OZZARDI (MANSON) (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) NA COMUNIDADE DE PEDRAS NEGRAS, MUNICÍPIO DE SÃO FRANSCISCO DO GUAPORÉ, ESTADO DE RONDÔNIA, BRASIL
Velasques,S.N. (Dissertação - defendida e entregue em 2013)

Acesso ao PDF

*******************************
XIX. ESTUDOS SOBRE A TRANSMISSÃO DE MANSONELLA (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) POR CULICOIDES (DIPTERA:CERATOPOGONIDAE) NA COMUNIDADE DE ASSUNÇÃO, RIO IÇANA, AMAZONAS
Damasceno,C.P. (Dissertação -defendida em 2009)


Acesso ao PDF

******************************
XX. CULICOIDES BANIWA SP.NOV. FROM THE BRAZILIAN AMAZON REGION WITH A SYNOPSIS OF THE HYLAS SPECIES GROUP (DIPTERA: CERATOPOGONIDAE)
Felippe-Bauer,M.L. & Damasceno,C.P. & Py-Daniel,V. & Spinelli,G.R. (publicado em 2009)


Acesso ao PDF

******************************
XXI.  ONCOCERCOSE
Py-Daniel,V. & Medeiros,J.F. (publicado em 2009)*

* Esta publicação deverá ser solicitada diretamente para:  katukina@gmail.com ou jmedeiro@gmail.com


******************************
XXII. MANSONELOSE - IRRESPONSABILIDADE SANITÁRIA E/OU DESCASO SOCIAL?
Py-Daniel,V.
[Dsiponibilizado no site do INPA em 2011 - Com a introdução da ASCOM-INPA sob o nome de "Mansonelose: problema de saúde e social da Amazônia", com indicativo para o texto original do autor; ambos os textos são apresentados aqui]

Texto da ASCOM - Acesso ao PDF (https://www.inpa.gov.br/noticias/noticia_sgno2.php?codigo=2048)

Texto do Autor - Acesso ao PDF (https://www.inpa.gov.br/arquivos/mansonelose.pdf)

*****************************
XXIII. IDENTIFICADA NOVA DOENÇA NA AMAZÕNIA
FAPESP Na Mídia (12.09.2007)

[Texto disponibilizado na mídia em 2007 - Acesso ao PDF (https://namidia.fapesp.br/identificada-nova-doenca-na-amazonia/10765)

*****************************
XXIV. MANSONELOSE EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS, BRASIL


Victor Py-Daniel (1) & Jansen Fernandes de Medeiros (1) & Chris Lopes da Silva (2) & Marilia Barbosa Megale (3) & Guilherme M. Ogawa (1) & Ulysses Carvalho Barbosa (1) & Orlando dos Santos Silva (1) 

(1) INPA-LETEP-Laboratório de EtnoEpidemiologia (VPD – atualmente na UnB; JFM – atualmente na FIOCRUZ-RO; GMO – atualmente no CDC, Atlanta - EUA)
(2) SEIND-Secretaria do Estado para os Povos Indígenas-AM (CLS - atualmente no Instituto Internacional de Educação do Brasil, IEB, Pauini, Amazonas)
(3) EB-Exército Brasileiro-Hospital de Guarnição (MBM - atualmente na Prefeitura Municipal de São José das Letras-MG)

Resumo

São apresentados os dados sobre um levantamento epidemiológico da mansonelose (Mansonella ozzardi e Mansonella perstans) desenvolvido no ano de 2007 na Comunidade Itacoatiara-Mirim, em São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil.

Palavras Chave: Amazonas, Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, Itacoatiara-Mirim, Mansonella ozzardiMansonella perstans.

(postado em 03.02.2020) - texto em manutenção (01092020)


[Blog – Simuliidae Neotropical & Epidemiologia - http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2019/11/mansonelose.html]  - Acesso ao PDF

***************************
XXV. MANSONELOSE EM DOADORES DE SANGUE NO ESTADO DO AMAZONAS
Abrahim,C.M.M. & Py-Daniel,V. & Gomes,L.L. & Moreno,C.M. & Abrahim,M.M.
(publicado em 2004)

Acesso ao PDF

******************************
XXVI. DETECTION OF MANSONELLA OZZARDI AMONG BLOOD DONORS FROM HIGHLY ENDEMIC INTERIOR CITIES OF AMAZON STATE, NORTHERN BRAZIL
Abrahim,C.M.M. & Py-Daniel,V. & Luz,S.L.B. & Fraiji,N.A. & Stefani,M.A. (publicado em 2019)

* Esta publicação deverá ser solicitada diretamente para:  claudia.abrahim@gmail.com ou katukina@gmail.com


*******************************
XXVII. PRIMEIRO REGISTRO DE MANSONELLA PERSTANS (MANSON, 1891) EM CULICOIDES PARAENSIS (GOELDI)
Damasceno,C.P. & Py-Daniel,V. & Fellipe-Bauer,M.L. (publicado em 2009)

Acesso ao PDF

*******************************
XXVIII. MANSONELOSE - UM CASO ONDE A ATITUDE NEGATIVA PARA A SAÚDE PÚBLICA "INSTITUCIONALMENTE" ASSUME A REGRA
Py-Daniel, V. & Medeiros,J.F. & Silva, C.L. & Pessoa,F.A. & Ogawa,G.M. (publicado em 2013)

Acesso ao PDF

*******************************
XXIX. MANSONELOSE NO ALTO RIO NEGRO - II. RIO NEGRO (DE CUCUÍ ATÉ SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA) E RIO XIÉ, ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL.


Victor Py-Daniel (1) & Jansen Fernandes de Medeiros (1) & Chris Lopes da Silva (2) & Marilia Barbosa Megale (3) & Guilherme M. Ogawa (1) & Ulysses Carvalho Barbosa (1) & Orlando dos Santos Silva (1) 

(1) INPA-LETEP-Laboratório de EtnoEpidemiologia (VPD – atualmente na UnB; JFM – atualmente na FIOCRUZ-RO; GMO – atualmente no CDC, Atlanta – EUA; UCB e OSS continuam no LETEP); (2) SEIND-Secretaria do Estado para os Povos Indígenas-AM (CLS - atualmente no IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, Pauini, Amazonas; (3) EB-Exército Brasileiro-Hospital de Guarnição (MBM - atualmente na Prefeitura Municipal de São José das Letras-MG)


Resumo


Foi feito um levantamento epidemiológico para mansonelose (Mansonella ozzardi e M.perstans) no alto rio Negro, Estado do Amazonas, na área que compreende de Cucuí até pouco acima de São Gabriel da Cachoeira (dez comunidades), como também o rio Xié (6 comunidades). São apresentados os resultados por diferentes índices, salientando a importância da etnia Kuripaco para M.perstans.

Palavras Chave: Alto Rio Negro, Cucuí a São Gabriel da Cachoeira, Rio Xié, epidemiologia, populações ameríndias. Mansonella ozzardi, Mansonella perstans.


(postado em 01.04.2020) - texto em manutenção (01.09.2020)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

RELAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE DE CAÇA E A ENDEMICIDADE DA ONCOCERCOSE EM WATATAS - XITEI / XIDEA, RORAIMA, BRASIL

RELAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE DE CAÇA E A ENDEMICIDADE DA ONCOCERCOSE EM WATATAS - XITEI / XIDEA, RORAIMA, BRASIL
Layme,V.M.G. & Py-Daniel,V.

(Laboratório de EtnoEpidemiologia Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)


RESUMO


A caça além de sua importância na subsistência pode influenciar indiretamente aspectos da saúde de populações tradicionais. Neste trabalho relacionamos as movimentações de caçada Yanomami ao risco de re-infecção por oncocercose em uma área. Foi observada uma maior intensidade de  caçadas em períodos do ano em que os vetores são mais abundantes. Também houve uma correlação positiva entre o risco de re-infecção e o retorno energético das caçadas. É possível que a inclusão de fatores ecológicos e sociais, tais como movimentações e os fatores que as determinam, ajudem na modelagem de doenças em populações humanas.

PALAVRAS CHAVES
Migração, endemicidade, oncocercose,Yanomami,caça

 ABSTRACT
Hunting, beyond its importance in subsistance, may indirectly influence some health aspects in traditional populations. In this work we relate Yanomami hunting movements to the risk of oncocercose re-infection in one area. It was observed a higher intensity in hunting during year periods where vectors are more abundant. There was also a positive correlation between the risk of re-infection and energetic of hunting . It is possible that ecological and social reasons, such as moving and the reasons that determine it, may help in the modeling of diseases in human populations.


KEY WORDS
Migration, endemicIty, onchocerciasis, Yanomami, hunt.

INTRODUÇÃO
As movimentações humanas desempenham um papel fundamental na propagação e disseminação de doenças, diretamente através do transporte de vetores e migração de pessoas infectadas ou indiretamente através do aumento dos aglomerados urbanos (Schatzmayr, 2001; Tauil, 2001). Em recente trabalho Joy et al. (2003) demonstraram que mudanças históricas nos hospedeiros, que podem ocorrer através da migração ou de alterações nos tamanhos das populações, são os principais responsáveis pela demografia de P. falciparum. Diferenças temporais e espaciais nas estatísticas de saúde podem estar relacionadas às migrações humanas (Rogerson e Han, 2002). Locais que costumam atrair imigrantes, como por exemplo, centros urbanos, tendem a apresentar uma população menos saudável devido tanto a uma migração diferencial, como pela queda no nível de vida dessas populações (Verheij  et. al. ,1998).
Diversas doenças como malária, leshmanioses cutânea/visceral e esquistossomose se dispersaram na África e Europa graças às intensas migrações humanas que ocorreram entre e dentro desses continentes ainda na pré-história e idade antiga (Nozais, 2003). Algumas destas doenças foram introduzidas no Novo Mundo pelos colonizadores europeus e/ou pelos escravos africanos. Entre estas doenças está a oncocercose, que provavelmente entrou no continente americano (especificamente nos países que constituem a região do Caribe) através de escravos trazidos da África, sendo passada aos indígenas Ye’kuana que posteriormente a difundiram junto aos Yanomami (Moares, 1997).
A oncocercose é uma doença parasitária causada pelo helminto Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) e é transmitida por insetos da família Simuliidae. Dentro do corpo do hospedeiro os vermes adultos se localizam em nódulos fibrosos ou cistos subcutâneos e produzem numerosas microfilárias que permanecem sob a pele ou invadem os tecidos do globo ocular do hospedeiro, causando muitas vezes danos irreversíveis que levam a cegueira parcial ou total (Pessoa, 1969).
A área indígena Yanomami / Ye’kuana é atualmente o único local endêmico para o oncocercose no Brasil, com 32,4 % da população contaminada (Py-Daniel, 1997). Desde 1993, continuamente, estão sendo realizados estudos epidemiológicos nesta área indígena. A medicação com Ivermectina (inicialmente distribuída apenas nos Pólos de Saúde Xitei/Xidea (Roraima) e Toototobi-Balawaú (Amazonas), agora está sendo tomadas pelos Yanomami e Ye’kuana (elegíveis) residentes em todas as áreas determinadas como meso e hiperendêmicas dentro do território brasileiro, o quê provavelmente tem ajudado a diminuir a quantidade de vetores contaminados. Entretanto, movimentações periódicas desses indígenas (Yanomami/Ye'kuana) colocando-os em contato com outros indivíduos ou locais sem tratamento (especialmente nas comunidades dentro do território da Venezuela) podem ter papel crítico na re-infestação pela oncocercose. Em áreas focais de oncocercose do México e Guatemala é assinalado que os trabalhadores migrantes que cruzam a fronteira entre estes países, podem distribuir a doença para outras áreas (WHO, 1995). Em uma comunidade Yanomami, foi observada uma relação entre a distância percorrida durante movimentações e um aumento na probabilidade de re-infestação por O. volvulus (Souza, 2002). Dentre estas movimentações, as expedições de coleta e caça coletiva foram as que envolveram maior distância da comunidade e o maior número de indivíduos (Souza, 2002).
Para populações indígenas de diversas etnias, a carne oriunda da caça é a principal, se não a única fonte de proteína animal (Vickers, 1991), sendo indispensável para o seu equilíbrio nutricional, juntamente com o consumo de produtos da pesca e da coleta (Lizot, 1978; Colchester, 1982). Dentre as atividades anteriormente citadas, a caça, é a principal fonte de proteínas envolvendo, em muitos casos, deslocamentos longos com um grande número de participantes (Albert, 1997; Souza, 2002).
Assim, os principais objetivos deste estudo foram: determinar a importância relativa das caçadas como fonte de proteína e determinar o efeito das movimentações para caça na endemicidade de oncocercose em uma comunidade Yanomami.


MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo
Realizamos este estudo na comunidade Yanomami de Watatás localizada no extremo norte do Brasil (2o36’29” N e 63o52’18” W), na base da serra Parima a 750m de altitude (Fig. 1). Segundo Huber et al. (1984) a vegetação predominante da região é floresta tropical densa de baixa altitude (600-1000 m) e floresta tropical de terras altas (acima de 1000m), no entanto ocorrem também florestas secundárias em diferentes estágios sucessionais, resultantes de roças abandonadas.
Na região existem 20 outras comunidades Yanomami a diferentes distâncias de Watatas, constituindo o Pólo Yanomami Xitei. Além de ser a comunidade mais populosa (167 indivíduos, vivendo em 38 grupos familiares ou yanos), Watatas é um lugar de atração para os Yanomami de outras comunidades devido à sua localização central, como também pela existência de um posto de saúde e uma pista de pouso. A região do Xitei foi classificada como hiperendêmica para oncocercose, com uma prevalência de 62,7%, sendo Thryrsopelma guianense e Psaroniocompsa incrustata os principais vetores nesta área (Py-Daniel, 1997; Py-Daniel et al., 2000). Desde o segundo semestre de 1996 são distribuídas, entre a população de Xitei/Xidea, doses de Ivermectina (Mectizan) (Py-Daniel et al., 1997). Entretanto, o grande número de não-elegíveis, constituídos basicamente por grávidas e menores de 5 anos que não recebem a medicação e o constante intercâmbio com pessoas e/ou locais onde não existe tratamento podem estar afetando o controle desta doença em Watatas.

Figura 1 - Mapa da T.I. Yanomami (que inclui a área Ye'Kuana) evidenciando as comunidades da região de Xitei/Xidea . A comunidade "4" assinalada no mapa de Py-Daniel et  al. 2000, como Koremisiapi-ú agora é denominada de Pohowarope.

Os Yanomami da região ainda mantêm sua forma tradicional de caçar, além do arco e flecha utilizando apenas cães em suas caçadas. As caçadas são realizadas de forma individual (ou em pequenos grupos de dois a três indivíduos que em geral vivem no mesmo Xapono) ou coletiva (grupos pluri-familiares). Este último tipo de caçada também conhecida como henimou ocorre em geral nos limites da comunidade, em distâncias superiores a 10 km e duram de 10-15 dias. 
Apesar dos Yanomami serem tradicionalmente semi-nômades, permanecendo numa área por no máximo 4-5 anos (Albert, 1997) esta comunidade está fixada na mesma área a pelo menos 12 anos. A área total utilizada pelos Yanomami de Watatas em suas caçadas e coletas é de no máximo 277 km2. Além de possuírem uma pequena área exclusiva para suas atividades, estes Yanomami não se deslocam para algumas direções devido a conflitos (históricos e/ou momentâneos) com algumas comunidades.

Coleta e Análise dos dados


Entre maio de 2002 e julho de 2003 foram realizadas oito excursões (com 20-35 dias de duração), nas quais Layme participou tanto nas caçadas como também na realização entrevistas com caçadores individuais e em cada Yano. Nestas entrevistas foram determinados a quantidade e biomassa de animais abatidos, técnicas de caça empregadas, direção, distância, duração e número de participantes. Com estas informações foi possível calcular o retorno energético das caçadas (kg/caçador/hora). As caçadas foram classificadas como sendo de curta duração, quando envolviam de 1-3 indivíduos e duravam apenas um dia ou caçadas coletivas de longa duração ou henimou quando envolviam mais de três indivíduos (em geral de diferentes yanos e/ou xabono) e duravam mais de dois dias. Também foram classificadas quanto a distância da comunidade, em muito próximas ou nos arredores (<3 4="" de="" distantes="" e="" km="" mais="" o:p="">
Nessas entrevistas também foram obtidas informações sobre origem e quantidade de outros itens animais consumidos. A distribuição dos diversos tipos de proteína animal nas categorias “caça”, “coleta” e “pesca” seguiu a classificação utilizada pelos próprios Yanomami.  Répteis e anfíbios foram considerados caça, enquanto que camarões, caramujos, larvas aquáticas de insetos e girinos foram classificados como produtos da pesca. Na coleta estão incluídos os diversos estágios larvais de insetos (borboletas, besouros e vespas). Para determinar a importância das caçadas em relação a outras atividades de forrageio do grupo para a aquisição de proteína, dividimos a freqüência do consumo de carne oriundo da caça, pesca e coleta pelo número total de entrevistas. 
Foi determinado o número de pessoas de Watatas caçando em “áreas de risco” (próximas às comunidades sem tratamento) ao longo de cada período do ano. Para cada movimentação de caçada foi atribuído um índice de movimento que constitui o produto da duração do movimento (em dias) pelo número de participantes. Este índice de movimento foi correlacionado às Taxas Mensais de Picada (TMP) dos dois principais vetores na área T. guianense P. incrustata (Py-Daniel et al., 2000). Maiores detalhes sobre os procedimentos de coleta, coloração e dissecação dos vetores são descritos em Andreazze e Py-Daniel (1999). Embora a atividade desses vetores possa variar bastante ao longo do ano, não existe uma grande variação nos padrões inter-anuais (Py-Daniel, dados não publicados).
O risco de re-infecção por oncocercose (RR) em cada caçada foi estimado através da seguinte fórmula: RR = AV* PPST *N onde, AV = atividade dos vetores, PPST= Proporção de Pessoas Sem Tratamento, N=número de participantes em cada caçada. O valor de AV é calculado multiplicando-se a taxa mensal de picada de cada um dos principais vetores pela duração do movimento e dividindo-se o valor resultante pelo número de dias do mês (Andreazze e Py-Daniel, 1999). Enquanto que a proporção de pessoas sem tratamento (PPST) corresponde ao número de pessoas que não tomaram Ivermectina (elegíveis e não elegíveis) dividido pela população total.
Os dados foram analisados no programa SYSTAT 8.0 (Wilkinson 1998), sendo inicialmente testados para verificar se respeitavam aos pressupostos dos testes, como  homoscedacidade e normalidade. Quando os valores encontrados não correspondiam à distribuição normal, eram transformados em logaritmos ou analisados por um método não-paramétrico correspondente. Foi usada Análise de Variância (ANOVA) ou Kruskall–Wallis para testar se existiam diferenças significativas na ingestão de proteína animal oriunda de caça, pesca e coleta, na quantidade de carne de caça obtida em diferentes períodos do ano e no risco de re-infecção por oncocercose em caçadas de longa duração que ocorreram próximas a diferentes locais. Usando correlação de Pearson relacionamos o risco de re-infecção de cada movimentação ao retorno energético da caçada.

Resultados

Existiu uma grande variação mensal na importância da caça, pesca e coleta como atividades para a obtenção de proteína (Fig. 2). A proteína oriunda da pesca teve nos Yanos entrevistados uma freqüência de consumo significativamente maior do que a coleta e a caça (ANOVA r2=0,423, F2,21=7,703, P=0,003). Por outro lado, a carne oriunda da caça apesar de ser menos freqüentemente consumida, tem em termos de biomassa um consumo médio significativamente maior do que aquelas oriundas da pesca e coleta. (ANOVA r2=0,434, F2,21=8,052, P=0,003; Fig. 3). Além disto, as atividades de pesca ocorreram ao longo de todo o ano, enquanto que a caça sofreu um efeito sazonal e tendeu a se concentrar nos meses que correspondem a estação chuvosa (U =  14,000, P=0,053).


Figura 2 – Variação mensal da freqüência de proteína animal oriunda de diferentes atividades nos Yanos de Watatas.






Figura 3 – Diferença no consumo médio de diferentes tipos de proteína animal em Watatas

Durante o período de estudo foram registradas 135 caçadas, a maior parte delas (N=123) foi realizada individualmente ou em pequenos grupos de até 3 indivíduos nos arredores da aldeia.  Os Yanomami de Watatas participaram de 12 caçadas de longa duração ou henimou, envolvendo 145 participantes. Apesar de serem menos freqüentes, nas caçadas do tipo henimou foram capturados animais de peso significativamente maior do que nas caçadas em torno da aldeia (U=  61,50, P<<0 o:p="">
A maior parte dos henimou ocorreu entre os meses de agosto e novembro. Neste período também as caçadas foram mais longas e contaram com um número maior de participantes (Fig. 4). Houve uma correlação parcial entre essas caçadas de longa duração e as taxas mensais de picada de T. guianense e de P. incrustata quando foram analisadas todas as movimentações (r= 0,494 P<0 a="" an="" ap="" dados="" dos="" esta="" evidente="" extremo="" fica="" ficou="" foi="" forte="" gr="" i="" lise="" n="12)." ncia="" ponto="" quando="" removido="" s="" ser="" significativo="" tend="" um="">r
= 0,590 P<0 5="" adas="" ano="" atividade="" ca="" do="" em="" essas="" esses="" ig.="" m="" maior="" n="11)," nos="" o:p="" ocorreram="" odos="" per="" principalmente="" que="" t="" uma="" vetores="" vez="">



Figura 4 - Variação no número de participantes e na duração (em dias) das caçadas realizadas pelos os Yanomami de Watatas entre maio/2002 e julho/2003.

Figura 5 - Variação mensal nas movimentações yanomami para caçadas (número de participantes x duração) e taxa mensal de picada (TMP) em T. guianense P. incrustata.


A maioria das caçadas de longa duração ocorreu em áreas próximas à comunidade do Tirei. Entretanto, as caçadas mais longas e com o maior número de participantes foram em áreas próximas à comunidade de Pohowarope (Tabela 1.). Exceto pelas caçadas de longa duração que ocorreram próximas a Serra Parima (área sem presença de outras comunidades) todos os henimou ocorreram próximos à comunidades com índices de cobertura de tratamento similares aos de Watatas (U = 170,00, P= 0,25).


Tabela 1 – Médias do número de participantes e da duração das caçadas henimou realizadas pelos Yanomami de Watatás e cobertura média de tratamento para diferentes locais onde as caçadas se realizaram.

Ocorreu uma diferença significativa no risco de re-infecção nas caçadas realizadas próximas a diferentes localidades (ANOVA= 70,9, F3,8=6,493, P=0,015). Indivíduos que participaram das caçadas que ocorreram próximas a serra Parima tiveram uma exposição bem inferior de re-infecção por Onchocerca volvulus (Fig. 6). Além disto, houve uma forte correlação negativa entre risco de re-infecção e o retorno energético das caçadas de longa duração (r=0,85, P=0,02), ou seja, está havendo uma tendência das caçadas com maior retorno energético se concentrarem em locais com menor risco (Fig. 7).

Figura 6 - Valores médios do risco de re-infecção por oncocercose nas caçadas ocorridas em diferentes direções (barras correspondem ao erro padrão da amostra).

Figura 7 - Relação entre o retorno energético das caçadas (km/h/caçador) e o risco de re-infecção em cada movimentação de caçada.

DISCUSSÃO
A alta freqüência de pesca como fonte de proteína para os Yanomami de Watatas pode ser explicada por sua localização e pela existência de lagoas artificiais nos arredores da comunidade (criadas durante a construção da pista de pouso). Na época das chuvas essas lagoas se comunicam com o rio Parima, disponibilizando assim fartas áreas de exploração aquática (sapos, peixes, etc.) por parte dos Yanomami.
Apesar de ser um recurso menos previsível que a pesca, a caça de subsistência é uma importante fonte de proteína para os Yanomami de Watatas, pois a comunidade esta localizada em uma região que corresponde à cabeceira de rios, onde os peixes em geral são muito pequenos. Por outro lado, existe um baixo rendimento de caça próximo à comunidade e uma maior taxa de captura de animais maiores em caçadas do tipo henimou. Isto pode ser um indício de que as populações animais estão (ou estiveram) sujeitas a uma forte pressão de caça nas áreas mais próximas (Alvard et al., 1997) e demonstra a importância das caçadas de longa duração como forma de ter acesso a presas de qualidade energética superiores.
As caçadas de longa duração envolveram um maior número de pessoas nas direções sudeste (Tirei e Homoxi) e nordeste (Pohowarope). Não observamos nenhum henimou dos Yanomami de Watatas para locais próximos às comunidades ao sul que fazem fronteira com a Venezuela, embora existam informações de que caçadas ocorriam nestes locais em um período anterior ao presente estudo (Souza, 2002). Além disto, parece estar havendo uma tendência das caçadas se realizarem cada vez mais freqüentemente na Serra Parima uma área que era historicamente evitada pelos Yanomami de Watatas, devido à presença de Xamathari (grupos Yanomami considerados inimigos). A escassez de mamíferos de médio e grande porte nos arredores de Watatas, assim como conflitos com outras comunidades e/ou uma maior densidade de ocupação (e consequente sobreposição de territórios para caça) por outras comunidades pode estar induzindo mudanças nos padrões de deslocamento dos henimou realizados pelos membros de Watatás.
A princípio o risco de re-infecção por O. volvulus durante as caçadas realizadas para os locais acima citados pode ser considerado mínimo pela inexistência de comunidades próximas (Serrra Parima) ou similar ao que ocorre em Watatas, pois a cobertura de tratamento é praticamente a mesma. Por outro lado, essas comunidades localizadas a sudeste possuem maior chegada de visitantes provenientes de áreas não tratadas (Venezuela), que sempre trazem consigo novos aportes de filárias para os vetores presentes na área. Além disto, a maior parte dos henimou ocorreu entre agosto e novembro, quando as chuvas começam a diminuir na região, os rios começam a baixar seu nível e existe uma maior quantidade de T. guianense picando. Esta espécie de simulídeo é a mais importante na transmissão de O. volvulus na área nesta época do ano (Py-Daniel et al., 2000).
Neste estudo demonstramos que as caçadas além de sua importância no sistema sócio-cultural Yanomami podem ter um papel relevante na re-infecção por O. volvulus em uma determinada área. Desta forma, estudos epidemiológicos em populações humanas que incluem explicitamente fatores sociais e ecológicos têm maiores chances de descrever os padrões de disseminação e/ou re-infecção de uma enfermidade do que aqueles que se restringem às informações sobre o comportamento dos vetores e do agente etiológico.
Um conjunto de observações, estritamente relacionadas com a importância das condições de Watatás é de que o fato, aparentemente positivo, da população desta comunidade, em suas movimentações de caça, não estar aumentando a probabilidade de aquisições de novas infecções de oncocercose (que representa uma diminuição de um contato mais íntimo com as áreas de comunidades não tratadas) é contraposto pela presença, em Watatas, de um pequeno hospital, que serve para atender todas as populações da área de Xitei/Xidea, inclusive as provindas da Venezuela. Isto na realidade quer dizer que: Por problemas sociais eles evitam irem para regiões aonde existem maiores índices de positividade para oncocercose, no entanto as facilidades de saúde oferecidas pelos napëpë (não Yanomami) instalados na área de Watatas, fazem com que os membros das comunidades não tratadas venham até ela, mantendo assim uma maior taxa de vetores positivos, que re-infectam a própria comunidade de Watatas (e outras que por ventura tenham feito parte dos caminhos de deslocamento dos membros das comunidades localizadas na fronteira da Venezuela). Watatás, portanto, apresenta-se como uma comunidade diferenciada em relação as outras comunidades de Xitei/Xidea: 1. Apresenta presença permanente de napëpë (FUNAI e Diocese-RR); 2. Como citado anteriormente, é a única que possui uma pista de pouso de aviação. Com base nestes fatores ocorre um condicionamento a um maior sedentarismo, tendo em vista que indicam uma maior constância na possibilidade trocas de artigos, fato este demonstrado pelo longo tempo de permanência no mesmo lugar (mais de 12 anos). 3. Geograficamente ocupa uma posição intermediária entre as comunidades que habitam ao sul, área mais densamente povoada (fronteira com a Venezuela) e as que habitam ao norte (área de ação do Pólo de Saúde Surucucu, menos povoado na sua parte sudoeste), e tendo a oeste a serra de Xitei que historicamente representa área de perigo, ou seja, pouco utilizada e desabitada, para qualquer tipo de movimentação. 4. É um centro de atração para as demais comunidades que visam obter algum tipo de cura, principalmente para malária e diarréias, que não são possíveis de serem feitas pelos Xapores. 5. É um centro de atração para atender as necessidades de obtenção de instrumentos (machados, facões, enxadas) que já fazem falta parte desenvolverem os seus roçados. 6. É um centro de atração para participarem de diferentes tipos de reuniões e cursos (educação, saúde) oferecidos pelos napëpë.
Estes fatores diferenciativos de Watatas indicam que qualquer tipo de estudo epidemiológico desenvolvido nesta comunidade, que vise criar uma caracterização para Xitei/Xidea, como um todo, deve acrescentar, no mínimo, uma outra comunidade que não tenha tantas influências de "não Yanomami".
No entanto, se o governo venezuelano efetivar um constante atendimento de saúde, incluindo aí malária e oncocercose, nas comunidades que vivem no alto Orinoco, o aspecto de saúde deve ter menor influência na manutenção da qualidade de vida da comunidade Watatas.


AGRADECIMENTOS

         Agradecemos a todos os membros das comunidades de Xitei/Xidea que permitiram o desenvolvimento deste trabalho, como também a FUNAI, a Diocese de Roraima, e a FUNASA. Este estudo também não teria sido possível sem o apoio do financeiro do CNPq através do Programa de Capacitação Institucional (PCI/INPA).

BIBLIOGRAFIA

Albert, B. 1997. Terra, ecologia e saúde indígena: o caso Yanomami. In: Barbosa, R. I.; Ferreira, E. J. G.; Castellón, E. G. (eds.). Homem, ambiente e ecologia no estado de Roraima. INPA, Manaus, Amazonas. p. 65-84.
Andreazze, R.; Py-Daniel, V. 1999. Atividade Hematofágica Mensal e Infecção natural de Psaroniocompsa incrustata (Lutz,1910) (Díptera, Culicomorpha, Simuliidae) vetor de Onchocerca volvulus (Leuckart,1893) em Xitei/Xidea, área indígena Yanomami, Roraima, Brasil. Entomologia y Vectores 6: 415-440.
Alvard, M. S.; Robinson, J. G.; Redford, K. H.; Kaplan, H. 1997. The sustainability of subsistence hunting in the Neotropics.  Conservation Biology 11: 977-982.
Colchester, M. 1982. The economy, ecology and ethnobiology of the Sanema indians of Southern Venezuela. Tese de doutorado, Universidade de Oxford, Inglaterra.
Hubber, O.; Steyermark, J. A.; Prance, G. T.; Alex, C. 1984. The vegetation of the Sierra Parima, Venezuela-Brazil: some results of recent exploration.  Brittonia 36: 104-139.
Joy, D.A.; Feng, X.; Mu, J.; Furuya, T.; Chotivanich, K.; Krettli, A. U.; Ho, M.; Wang, A.; White, N. J.; Suh, E.; Beerli, P.; Su, X. 2003. Early Origin and Recent Expansion of Plasmodium falciparum. Science 300:318-321.
Lizot, J. 1978. Économie primitive et subsistence. Essai sur le travai et l´alimentation chez les Yanõmami. Libre 78: 69-111.
Moraes, M. A. P. 1997. Oncocercose. In: Leão, R. N. Q. (ed.). Doenças infecciosas e parasitárias: enfoque amazônicoUEPA, Cejup editora. p.739-746.
Nozais, J. P. 2003. The Origin and Dispersion of Human Parasitic Diseases in the Old World (Africa, Europe and Madagascar). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz Vol. 98: 13-19.
Pessoa,S. 1969. Parasitologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A. 943 p.
Py-Daniel, V. 1997. Oncocercose, uma endemia focal no hemisfério norte da Amazônia. In: Barbosa, R. I.; Ferreira, E. J. G.; Castellón, E. G. (eds.). Homem, ambiente e ecologia no estado de Roraima. INPA, Manaus, Amazonas.  p. 111-155
Py-Daniel, V., Andreazze, R.; Medeiros, J. F. 2000. Projeto Piloto Xitei/Xidea (Roraima). Índices epidemiológicos da transmissão de Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) para os anos de 1995-1996. Entomologia y Vectores 7: 389-444.
Rogerson, P.A.; Han, D. 2002. The effects of migration on the detection of geographic differences in disease risk. Social Science & Medicine 55:1817-1828.
Schatzmayr, H.G. 2001. Viroses emergentes e re-emergentes. Cadernos de Saúde Pública 17:209-213.
Souza, F. S. 2002. Movimentações periódicas dos Yanomami e suas implicações para o Controle da Oncocercose em Watatas (Xitei/Xidea), Roraima-Brasil. Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas.
Tauil, P.L. 2001. Urbanização e ecologia do dengue. Cadernos de Saúde Pública 17: 99-102.
Verheij, R A; Van de Mheen, H D; de Bakker, D H; Groenewegen, P P; Mackenbach, J P. 1998. Urban-rural variations in health in The Netherlands: does selective migration play a part? Journal Of Epidemiology And Community Health 52: 487-493.
Vickers, W. T. 1991. Hunting yields and game composition over ten years in na Amazonian indian village territory. In: Robinson, J. G.; Redford, K. H. (eds). Neotropical Wildlife Use and Conservation. University of Chicago Press, Chicago. p. 53-81.
WHO - Expert Committee on Onchocerciasis Control. 1995. Onchocerciasis and its control. WHO technical series: 852, Geneva, Switzerland, 103 p.

(15.11.2019)

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

ESTUDOS COMPLEMENTARES NO PROGRAMA DE ELIMINAÇÃO DA ONCOCERCOSE DO BRASIL NA T.I. YANOMAMI / YE´KUANA ( XITEI/XIDEA - RR )

Dentro do Programa de Eliminação da Oncocercose do Brasil, com o objetivo de mapear as movimentações (estímulos e estacionalidade) entre as comunidades Yanomami que habitavam a fronteira Brasil / Venezuela, na região de Xitei / Xidea e o Alto Orinoco (Venezuela) e o que isto influenciava na endemicidade regional da doença, foram desenvolvidos estudos no tocante a itens que incluem a dinâmica dos Yanomami, como: (a) caça, (b) coleta, (c) plantio/colheita.

Aqui são apresentados alguns resultados destes estudos.

I. CARACTERIZAÇÃO DE OCUPAÇÃO E USO NO SISTEMA DE PLANTIO INDÍGENA (YANOMAMI - XITEI / RR)

Souza, F.S. & Py-Daniel,V.

.
Resumo

Este trabalho foi realizado durante o ano de 2001 em três períodos distintos (fev-mar, mai-jun e out-nov), na Terra Indígena Yanomami, Pólo de saúde Xitei/Xidea. Nesta região o clima é constituído em 8 meses de chuva e 4 meses de seca. A finalidade deste trabalho é caracterizar o tipo de roça Yanomami através da forma de manejo e dos produtos cultivados. Os dados foram coletados por visitas as roças, onde foi observado o estado da plantação, os produtos plantados e coletados, o período de corte, de queima e de plantio.
Para a caracterização dos produtos foram utilizadas fotos retiradas de cada espécime. Por meio de entrevistas com Yanomami obtivemos o nome (na língua Yanomami) de cada produto e variedades por eles utilizadas. Foram identificados 13 produtos cada um podendo conter de 1 a 10 variedades. Dentre os produtos encontrados, os principais utilizados na subsistência são a macaxeira (Manihot sculenta), a banana (Musa spp.) e inhame (Discorea alata). A época de queima e plantio são bem caracterizadas ao período da seca e final da seca respectivamente, enquanto o corte pode ser observado ao longo de todo o ano.


Quem são os Yanomami ?


         São semi-nômades da Floresta Tropical Úmida. Classificados segundo Ramos (1990) como “caçadores-coletores e agricultores. A atividade de coleta e caça dos Yanomami absorve 70% dos seus nutrientes essenciais. Esta estratégia adaptativa de forrageamento é o que possibilita um consumo adequado de calorias e proteinas durante todo o ano (Good K, 1995). Possuem geralmente baixa estatura, sendo também considerados por alguns autores como pigmóides (Holmes,1995). Vivem em Shaponos, estes são subdivididos em Yanos (cada unidade familiar). Suas comunidades são independentes contendo de 15 a 160 indivíduos (Anderson, 1977).



Localização e área de uso das aldeias

“O Ecossistema é o contexto geral onde ocorre a adaptação Humana (Morán, 1990)”

Albert & Gomez (1997) descreveram que o espaço da floresta explorado por uma comunidade Yanomami pode ser descrito esquematicamente com base no modelo de uma série de círculos concêntricos ao redor da aldeia. Estes círculos delimitam áreas de uso, de modos e da intensidade:

1 - O primeiro, num raio de 5 km, circunscreve a área de uso imediato da aldeia: pequena coleta feminina, pesca individual ou no verão, pesca coletiva com timbó, caça ocasional de curta duração (ao amanhecer ou entardecer) e atividades agrícolas.
2 - O segundo, num raio de 5 km a 10 km, é a área de caça individual e de coleta familiar do dia a dia.
3- O terceiro, num raio de 10 a 20 km, é área de expedições, envolvendo atividades de caça coletiva com duração de uma a duas semanas, que precedem aos ritos de cremação funerária e os grandes encontros cerimoniais intercomunitários. Nestas áreas também ocorrem as longas expedições pluri-familiares para coleta e caça com duração de 3 a 6 semanas (durante a fase de maturação de novas plantações). Estas expedições tem geralmente por alvo áreas onde se encontram agrupamentos de apreciadas árvores frutíferas ou áreas selecionadas por sua riqueza de caça. Encontram-se também nesta "terceira elipse" tanto as roças novas quanto as antigas, junto às quais acampam esporadicamente para cultivar ou colher, cujo nos arredores a caça abundante.


Área de Estudo

A Terra Indígena Yanomami encontra-se atualmente dividida em pólos de saúde, onde se localizam agentes de saúde, missionários e discais da FUNAI. A área de estudo compreende o Pólo Xitei/Xidea, com o total de 22 comunidades/aldeias Yanomami.
Este estudo foi realizado na região da Serra do Parima, município de Alto Alegre, Roraima, Brasil. Dentro da Terra Indígena Yanomami, na aldeia Watatas (02º36'29"N / 063º52'18"O). A comunidade possui 7 shaponos e 151 habitantes conforme o ultimo senso realizado pela ONG Urihi em 2000. 

Objetivo

O objetivo deste trabalho é caracterizar e mapear as roças dos Yanomami de Watatas acompanhando suas modificações ao longo do ano, afim de se conhecer os produtos plantados pelos mesmos, o período de plantio e caracterizar as formas de manejo utilizadas.

Materiais e Métodos

Os métodos se dividiram em duas etapas, sendo que a primeira consistiu em uma coleta de dados brutos, ou seja, visitas em três épocas diferentes do ano visando caracterizar:
(1) os produtos plantados e coletados por período;
(2) estado da plantação - [P0] - produtividade zero; [Pi] = produtividade inicial; [Pv] - produtividade velha.
(3) épocas de corte e queima das roças

A segunda parte consistiu em entrevistas com nove Yanomami, com o auxílio de registros (fotos, gravações e anotações) das visitas nas roças, como também livros, sendo assim, possível identificar posteriormente os produtos plantados por eles em Watatas.

As perguntas eram livres, ex: mostrava-se o objeto e era feita a pergunta: "Witi pei te tha" / O que é isso?

Esta metodologia visava obter o nome (na língua Yanomami) de cada produto e variedades por eles utilizadas, seguindo a identificação, em português com auxílio de um especialista e de acervos bibliográficos da EMBRAPA e do INPA.

Resultados 

Os produtos plantados pelos Yanomami de Watatas estão listados na tabela 1, sendo que a banana (Musa spp.) consistiu na principal fonte de amido da dieta Yanomami, sendo a mesma plantas/colhida durante todo o ano. Na figura 1. são apresentados os manejados, em relação aos meses dentro de um período anual, convencionando também dentro dos períodos climáticos de disponibilidade hídrica.


Figura 1 - Esquema de plantio. colheita e aproveitamento dos recursos Yanomami ao longo das estações climáticas, em Xitei

Tabela 1 - Nomenclatura científica, vulgar e Yanomam dos produtos existentes nas roças Yanomami, em Xitei

Conclusão

Os Yanomami, como outros indígenas da Floresta Tropical Úmida, estão cada vez mais se especializando em técnicas agrícolas e adquirindo tanto através de outros indígenas como de não indígenas (missionários, agentes da FUNAI) novos produtos para plantarem em suas roças, como por exemplo a abóbora, a goiaba, a laranja, a cana de açúcar, entre outros. Este fato também pode indicar uma mudança do hábito semi-nômade para uma tendência mais sedentária, porém para afirmar esta hipótese seriam necessários outros estudos.

Bibliografia

Albert,B. & G.G.Gomez, 1997, Saúde Yanomami - Um manual etnolinguistico. Coleção Eduardo Galvão - Museu E, Goeldi, 304p.

Anderson,A.B., 1977. Os nomes e usos de palmeiras entre uma tribo de índios Yanomama. Acta Amazonica 7(11)>5-13.

Good,K.B., 1995, Yanomami of Venezuela: Foragers ou Farmer - Which Came First? In: Indigenous Peoples & The Future od Amazonia. An ecological anthropology of an endangered World. (ed. Leslie E. Sponsel), The University of Arizona Press, Arizona, pp. 113-120.

Holmes,R. 1995. Small Is Adaptative: Nutricional Anthropometry of Native Amazonians. InIndigenous Peoples & The Future od Amazonia. An ecological anthropology of an endangered World. (ed. Leslie E. Sponsel), The University of Arizona Press, Arizona, pp. 121-148.

Morán,E.F. 1990. A ecologia humana das populações da Amazônia. Ed. Vozes Ltda., Rio de Janeiro, 367p.

[Este trabalho foi  revisto e corrigido, sendo que o original deste trabalho pode ser encontrado em: http://nerua.inpa.gov.br/NERUA/09.htm, e foi uma apresentado no I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia da região Norte - 5-8.12.2001; publicado no ano de 2002]

**********************************
II. INFLUÊNCIA DAS MOVIMENTAÇÕES YANOMAMI NA ENDEMICIDADE E DISPERSÃO DA ONCOCERCOSE NO TERRITÓRIO YANOMAMI
Souza, F.S. & Py-Daniel,V. (publicado em 2007)

**********************************
III. DECAPOD CRUSTACEANS USED AS FOOD BY THE YANOMAMI INDIANS OF THE BALAWA-Ú VILLAGE, STATE OF AMAZONAS, BRAZIL
Magalhães, C. & Barbosa,U.C. & Py-Daniel,V. (publicado em 2006)



**********************************
IV. OBSERVAÇÕES SOBRE ESPÉCIES DE SIMULÍDEOS VETORAS DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) E MANSONELLA OZZARDI (MANSON, 1897) EM OITO LOCALIDADES DA TERRA INDÍGENA YANOMAMI / YE´KUANA (1994-1995), BRASIL
Gomes,L.H.M. & Py-Daniel,V. & Andreazze,R. & Medeiros,J.F. & Barbosa,U.C. & Silva, O.S. & (publicado em 2015)

http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2015/12/simulideos-vetores.html

**********************************
V. ONTOGENIA LARVAL DE THYRSOPELMA GUIANENSE (WISE, 1911) (DIPTERA:SIMULIIDAE), NO RIO JAUAPERI, RORAIMA, BRASIL
Passos,M.C.V dos & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Silva, O.S. & Junior,E.S.L. (publicado em 2015)

http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2015/12/ontogenia-guianense.html

************************************
VI . APROXIMAÇÃO PARA O ENTENDIMENTO DA DINÂMICA POPULACIONAL DAS PODOSTEMACEAE (MALPIGHIALES), DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E RELAÇÃO COM SIMULIIDAE (DIPTERA, CULICOMORPHA)
Py-Daniel,V. (publicado em 2015, atualizado e, 2019)


********************************
VII. ICTIOFAUNA PREDADORA DE IMATUROS DE PIUNS / BORRACHUDOS (DIPTERA: SIMULIIDAE) EM DOIS LOCAIS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Amaral,A.A.R.C. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Silva,O.S. & Lima,E.S. (publicado em 2016)

(Parte I)
VIII. INFECÇÃO NATURAL DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) (NEMATODA, ONCHOCERCIDAE) PELA ESPÉCIE NOTOLEPRIA EXIGUUA (ROUBAUD, 1906) (DIPTERA, SIMULIIDAE) NO POLO BASE DE SAÚDE ERICÓ, TERRA INDÍGENA YANOMAMI / YE´KUANA, RORAIMA, BRASIL
Gomes,H.M. & Py-Daniel,V. & Barbosa,U.C. & Silva,O.S. & Junior,E.L. & Passos, M.C.V. & Colás,A. (publicado em 2016)


*********************************
IX. RELAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE DE CAÇA E A ENDEMICIDADE DA ONCOCERCOSE EM WATATAS - XITEI / XIDEA, RORAIMA, BRASIL
Layme,V.M.G. & Py-Daniel,V.


http://simuliidae-neotropical-py.blogspot.com/2019/11/relacao-entre-atividade-de-caca-e.html
*********************************
X. MACRO-DINÂMICA DE TRANSMISSÃO DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) (NEMATODA:ONCHOCERCIDAE) POR ESPÉCIES DE SIMULÍDEOS NO PÓLO BASE XITEI/XIDEA, ÁREA INDÍGENA YANOMAMI / YE´KUANA, RORAIMA, BRASIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. (publicado em 2010)

Acesso ao PDF

********************************
XI. ATIVIDADE HEMATOFÁGICA DIÁRIA E INFECÇÃO NATURAL DE PSARONIOCOMPSA INCRUSTATA (LUTZ, 1910) (DIPTERA, CULICOMORPHA, SIMULIIDAE) VETOR DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) EM XIREI/XIDEA, ÁREA INDÍGENA YANOMAMI, RORAIMA, BRASIL


Andreazze,R. & Py-Daniel,V. (publicado em 2001)


************************************
XII. ATIVIDADE HEMATOFÁGICA E INFECÇÃO NATURAL DE TRÊS ESPÉCIES DE SIMULIIDAE (DIPTERA: CULICOMORPHA) EM XITEI/XIDEA, ÁREA INDÍGENA YANOMAMI, RORAIMA, BRASIL
Medeiros,J.F. & Py-Daniel,V. (publicado em 1999)


************************************
XIIII. A CAÇA DE SUBSISTÊNCIA PELA ALDEIA YANOMAMI DE WATATAS (XITEI – RORAIMA)
Layme,M.G. & Py-Daniel,V. & Pessoa,F.A.C. (publicado em 2003)


[VI CEB – Fortaleza, Livro de Trabalhos do VI CEB. - 2003_: p. 156-157]

Acesso ao PDF

Poster correspondente ao Trabalho (O arquivo é no formato JPEG, e poderá ser baixado)

************************************
XIV. PROJETO PILOTO XITEI / XIDEA (RORAIMA). I- ÍNDICES EPIDEMIOLÓGICOS DA TRANSMISSÃO DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) PARA OS ANOS DE 1995-1996.
Py-Daniel,V. & Andreazze,R. & Medeiros,J.F. (publicadi em 2000)

Acesso ao PDF

************************************
XV. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROGRAMA DE ELIMINAÇÃO DA ONCOCERCOSE PARA AS AMÉRICAS
Py-Daniel,V. (publicado em 1994)

Acesso ao PDF

************************************
XVI. INFLUÊNCIA DOS FATORES CLIMÁTICOS NA ATIVIDADE HEMATOFÁGICA DE PSARONIOCOMPSA INCRUSTATA (LUTZ, 1910) (DIPTERA, SIMULIIDAE) VETOR DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) EM XITEI / XIDEA, ÁREA INDÍGENA YANOMAMI, RORAIMA, BRASIL
Andreazze,R. & Py-Daniel,V. & Medeiros,J.F. (publicado em 2002)


Acesso ao PDF

************************************
XVII. DINÂMICA DE DISPERSÃO, PADRÕES DE DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E ASPECTOS RELATIVOS A TRANSMISSÃO DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) POR SIMULÍDEOS (DIPTERA: CULICOMORPHA: SIMULIIDAE) NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO AMAZONAS
Py-Daniel,V. & Py-Daniel,L.H.R. (publicado 1998)

Acesso ao PDF

************************************
XVIII. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE DOIS CRIADOUROS DE LARVAS DE THYRSOPELMA GUIANENSE (WISE, 1911) (DIPTERA, CULICOMORPHA, SIMULIIDAE), DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Gomes,S.A.G. & Py-Daniel,V. (publicado em 2002)

Acesso ao PDF

************************************
XIX. CARACTERIZAÇÃO ALIMENTAR DO ULTIMO ESTÁDIO LARVAL DE THYRSOPELMA GUIANENSE (WISE, 1911) (DIPTERA. CULICOMORPHA, SIMULIIDAE), EM DUAS CACHOEIRAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Gomes,S.A.G. & Marques,L.K.L. & Py-Daniel,V. & Mera,P.A.S. (publicado em 2002)

Acesso ao PDF

************************************
XX. ONCOCERCOSE, UMA ENDEMIA FOCAL NO HEMISFÉRIO NORTE DA AMAZÔNIA
Py-Daniel,V. (publicado em 1997)

Acesso ao PDF

************************************
XXI. PEIXES (SERRASALMIDAE) PREDADORES DOS IMATUROS DE THYRSOPELMA GUIANENSE (WISE, 1911) (DIPTERA, CULICOMORPHA, SIMULIIDAE), VETOR DA FILARIA ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893)
Py-Daniel,V. & Jégu,M. (publicado em 1996)

Acesso ao PDF

***********************************
XXII. ATIVIDADE HEMATOFÁGICA MENSAL E INFECÇÃO NATURAL DE PSARONIOCOMPSA INCRUSTATA (LUTZ, 1910) (DIPTERA, CULICOMORPHA, SIMULIIDAE) VETOR DE ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) EM XITEI/XIDEA, ÁREA INDÍGENA YANOMAMI, RORAIMA, BRASIL
Andreazze,R. & Py-Daniel,V. (publicado em 1999)


***********************************
XXIII. DINÂMICA DA ATIVIDADE HEMATOFÁGICA (PREFERÊNCIAS HORÁRIAS - TÓPICAS) E ESTADO REPRODUTIVO DAS FÊMEAS DE THYRSOPELMA GUIANENSE (WISE, 1911) (DIPTERA, CULICOMORPHA, SIMULIIDAE), PRINCIPAL VETOR DA FILARIA ONCHOCERCA VOLVULUS (LEUCKART, 1893) NO BRASIL
Py-Daniel,V. & Dos Passos,M.C.V. & Medeiros,J.F. & Andreazze,R. (publicado em 1999)


***********************************
XXIV. ONCOCERCOSE
Py-Daniel,V. & Medeiros,J.F. (publicado em 2009)*

Esta publicação deverá ser solicitada diretamente para:  katukina@gmail.com ou jmedeiro@gmail.com

***********************************
XXV. ONCOCERCOSE EM EXPANSÃO NO BRASIL
Py-Daniel,V. (publicado em 1994)

Acesso ao PDF

***********************************
XXVI. CONSIDERAÇÕES SOBRE SIMULÍDEOS (DIPTERA - SIMULIIDAE) E FILARIOSES (ONCOCERCOSE E MANSONELOSE)
Andrade,H.T.A. & Medeiros,J.F. & Pessoa,F.A.C. & Py-Daniel,V. (publicado em 2003)

Acesso ao PDF

***********************************
XXVII. ANTICOAGULANT ACTIVITY IN SALIVARY GLAND HOMOGENALES OF THYRSOPELMA GUIANENSE (DIPTERA: SIMULIIDAE), THE PRIMARY VECTOR OF ONCHOCERCIASIS IN THE BRAZILIAN AMAZON
Chagas,A.C. & Medeiros,J.F. & Astolfi-Filho,S. & Py-Daniel,V. (publicado em 2010)

Acesso ao PDF

***********************************
XXVIII. PRIMEIRO REGISTRO DE SIMULIIDAE (DIPTERA) COM POLINÁRIOS DE ASCLEPIADOIDEAE (APOCYNACEAE)
Medeiros,J.F. & Rapini,A. & Barbosa,U.C. & Py-Daniel,V. & Braga,P.I.S, (publicado em 2008)

Acesso ao PDF

***********************************

XXIX. O SISTEMA BRASILEIRO DE ATENDIMENTO À SAÚDE INDÍGENA E ALGUMAS DE SUAS IMPLICAÇÕES NA CULTURA YANOMAMI.
Py-Daniel,V. & Souza,F.S. (publicado em 2001)

"Além disso, tais investigações assumem ainda mais elevado interesse, se considerarmos que os primitivos brasilincolas serão lançados no grande redemoinho social e civil, de onde, mais cedo ou mais tarde, surgirá uma população remodelada e quase nova - a do Império Brasileiro; que nesse torvelinhar eles hão de perder, a mais e mais. suas características próprias e, finalmente, se extinguirão por completo, como membros independentes da grande família humana - conforme parece ter determinado o Espírito Universal" (Von Martius, 1844)

RESUMO

São apresentadas algumas interpretações, ansiedades e fatos que propiciam transformações na cultura Yanomami por meio do modelo do Sistema Brasileiro de Atendimento à Saúde Indígena. Será que ainda poderemos apropriar este sistema?

PALAVRAS-CHAVE

Yanomami, Saúde, Transformações Culturais

O CONTEXTO

A Área Indígena Yanomami (que inclui também a etnia Ye´Kuana) está constituída de 96.649 Km2, sendo 38.723 km2 no Estado do Amazonas e 57.926 km2 no Estado de Roraima.

Segundo o último senso (FUNASA / DSEIY-RR, 2001) elaborado para setembro, esta área possui uma população de 12.767 indivíduos (12.401 Yanomami e 366 Ye´Kuana), estando 4.774 indivíduos no Amazonas (em 47 aldeias) e 7.993 indivíduos em Roraima (em 173 aldeias).

A densidade demográfica total é extremamente baixa (0,13 hab/km2). Enquanto Roraima apresenta um índice demográfico igual ao total da ´rea, no Amazonas ocorre ainda uma pequena redução (0,12 hab/km2).

Toda a área Indígena Yanomami, no Brasil, está localizada na macro-bacia hidrográfica do Rio Negro. Enquanto que em Roraima a maior concentração de indivíduos ocorre na sub-bacia do rio Uraricoera, secundada pelas sub-bacias dos rios Mucajai e Catrimani, no estado do Amazonas, as comunidades estão mais isoladas e concentradas nas sub-bacias dos rios Cauaboris, Demeni, Marauiá e Padauari.

As proporções diferenciais nos estados do Amazonas e Roraima, no que se refere à área ocupada / número de indivíduos e número de aldeias (AM = 1 / 0,12 / 0,001; RR = 0,13 / 0,002) demonstram nitidamente (como assinalou Py-Daniel, 1997) que ocorre no estado do Amazonas uma maior concentração de indivíduos em um menor número de aldeias, o que disponibiliza ainda mais o número de áreas desocupadas, ou seja, ao nível epidemiológico, as endemias apresentam uma dispersão muito mais lenta (no que tange à área total( do que no estado de Roraima, aonde as comunidades apresentam maior contiguidade.

Atualmente, além da FUNASA, existem 7 entidades conveniadas (com o Ministério da Saúde) como responsáveis pelas ações de saúde na área Yanomami: URIHI (AM/RR), DioRR (RR), MNTB (AM), MEVA (RR), MDM (RR), IDS (AM) e SECOYA (AM), sendo que a URIHI é a que atende proporcionalmente tanto a maior área como o maior número de indivíduos.

O CONTATO

Excetuando-se as missões religiosas os contatos dos Yanomami localizados nas cabeceiras dos rios (ou seja, que estavam mais isolados), em sua maior parte foram feitos na deca de 80, com um determinado tipo de napë: o garimpeiro.

Nesta época ficou nitidamente caracterizado o que Santos & Coimbra Jr. (1994) descreveram, em geral, para as populações indígenas amazônicas: "Dentre as conseqüências imediatas do contato estão a redução demográfica por epidemias de doenças infecciosas, a alteração de indicadores demográficos (e.g. taxas de natalidade e de mortalidade) e o comprometimento das atividades de subsistência."

Como os Yanomami apresentam uma característica singular de não falarem dos seus mortos, aparentemente, para quem chega agora para trabalhar, entre eles, na área de saúde, a visibilidade do contexto histórico fica pouco nítida.

Está tudo bom e melhorando!!!!

Por mais que eles não falem dos seus mortos, o exemplo do grande número de desaparecidos, na época do garimpo, serve como lembrança permanente, entre os mais velhos, para que as comunidades aceitem, com mais facilidade, as propostas para tratamentos/prevenções (vacinas) das doenças com origem na presença dos napëpë (plural de napë = não Yanomami).

Isto, portanto, é o início de "tudo"...


ACEITABILIDADE DO NOSSO SISTEMA MÉDICO POR PARTE DOS YANOMAMI

Pellegrini (1993), imbuído de um sentimento extremamente próximo aos Yanomami, escreve: "O nabè (= napë) tinha vários caroços e líquidos que aliviavam os desconfortos... Furava as pessoas com agulhas e lhes empurrava na carne, com muita dor e esforço, o líquido branco e valente que ele chama de penicilina. Pelo estado em que se encontravam, as pessoas eram obrigadas a gostar."

Conklin (1994), ao se referir às populações indígenas em geral cita: "O grau de receptividade à medicina ocidental depende destes conceitos e das praticas estranhas não serem antagônicas às noções sobre o corpo humano, sobre causa e prevenção das doenças e às relações sociais que cercam a doença. O fornecimento de serviços médicos será insuficiente para garantir um sistema de saúde eficaz caso não sejam equacionados os conflitos e equívocos existentes entre os conceitos ocidentais e indígenas de saúde e doença."

Os Yanomami, em comunidades mais isoladas, para aceitarem o nosso sistema médico necessitam primeiro terem confiança em que está disponibilizando tanto alimentação como remédios, pois mesmo já tendo bastante contato com tal pessoa, antes de ingerirem ou receberem os medicamentos é comum fazem uma pergunta: - Morrer não?

Esta pergunta é feita seguida de um comportamento complementar, quase obrigatório> a ação de olho no olho.

Se a boca do napë diz que pode comer ou beber, mas eles não conseguirem sentir o mesmo, na comunicação olho/olho, ou seja, não apresenta uma complementariedade ao que é dito, eles simplesmente não bebem/comem. É como uma contra-senha. Não correspondendo eles não dão continuidade à ação.

A aceitabilidade da "nossa medicina" está, portanto, muito mais associada à confiança entre os interlocutores do que na crença da possível cura.

Se o napë não curar, os Yanomami se reservam o direito de fazerem os seus sistemas de cura posteriormente. Se os seus sistemas de cura não funcionarem, por alguma razão (para qual sempre existe uma explicação - seja mitológica, relacional, etc.), eles voltam para o napë, mas já considerando o necessitado como caso perdido,,,

Esta dinâmica nas ações, aos poucos permite (?) mais credibilidade para a medicina ocidental, mas ao mesmo tempo estimula (quanto mais frequente fôr) a deixarem por conta dos napëpë os processos de cura. Já que eles estão lá para isto mesmo!!!

Aqui, então, começa a maior parte da história e assim já sabemos aonde isto vai dar ...


O LADO "BOM" / O DILEMA DO HÍBRIDO

Ou Pessoas ou Cultura???


O Sistema de Saúde, na realidade apresenta uma nova remodelagem tanto de valores como dos agrupamentos dentro da área de cada Pólo, e estas modificações estruturais vão influenciar diretamente, no mínimo, nos relacionamentos e agrupamentos para assistência de saúde.

Esta proposta de assistência de saúde altera, ou seja, diminui a movimentação natural dos grupos (mais uma trava ao semi-nomadismo).

Vai dar certo?

Na realidade é uma reestruturação social. Uma modelagem semelhante à municipalização de saúde.

Uma melhora da saúde em comprometimento do sistema social !!!

O dilema: ou são fornecidas melhores condições à saúde, e com isto possibilitando ter mais pessoas para fortificar o grupo Yanomami (objetivo inicial centrado em pessoas), ou deixa-se os Yanomami com os seus sistemas social/sanitário (objetivo inicial centrado no estado cultural).

Este objetivo que possibilita mais a visão cultural, está sujeito a auxiliar na diminuição drástica (pelo próprio conjunto de fatores gerados pela cultura dos napëpë) no número de pessoas.

Para que exista uma Cultura é obrigatório que antes existam Pessoas !!!

Assim, objetivando inicialmente a privilegiar a Cultura estaria na realidade direcionando a sua possível extinção !!!???

A "proposta/expectativa" é que venha a ocorrer um híbrido, portanto, primeiro preservar as pessoas e fazê-las aumentar, torcendo para que o "melhor" (deles/para eles) consiga sobreviver e assim seus valores (em suas dimensões) possam, um dia, prevalecer (voltar a).

Que "sinuca de bico" !!!

Primeiro o Ser Humano, no momento, pois as possíveis pressões externas da civilização circundante dos napëpë são uma realidade.

As ações de saúde têm a intensão de fortificar o interno para que com isto, possa existir (futuramente !!!) uma expansão do híbrido.


A RUPTURA SOCIAL


Black,F. (1994) comentando sobre o impacto das doenças introduzidas na estrutura social: "... A partir destes exemplos fica claro que a estrutura social indígena não foi capaz de prover cuidados básicos aos doentes, possivelmente porque muitos adoeceram ao mesmo tempo. Com base na experiência Yanomami, James Neel apontou para o processo de ruptura social durante as epidemias como uma causa para a maior sustentabilidade dos ameríndios às doenças infecciosas. De fato, nos exemplos mencionados acima, é plausível que a ruptura tenha sido respnsável por, pelo menos, metade dos óbitos."

Com base nisto podemos encarar que as ações de saúde programadas e desenvolvidas junto aos Yanomami, visam evitar que possam aumentar o número de óbitos, assim diminuindo as possibilidades de ruptura social.

As ações de saúde podem transformar as relações sociais, mas evitam as rupturas !!!

Até que profundidade estas transformações culturais podem ser interpretadas como uma não ruptura social?


O LADO POSSIVELMENTE "NÃO MUITO BOM"

O Sistema de Pólo Base

Definição dada pela FUNASA: Pólo Base de Operação, local aonde se chega, tem pista para avião e geralmente tem um pequeno posto de saúde e/ou base da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) (Py-Daniel,1997).

Atualmente o Pólo Base está mais relacionado com a saúde, do que com a existência de um PI (Posto Indígena).

Um Pólo não têm uma área geográfica definida, mas sim está caracterizado pelo atendimento a indivíduos/comunidades.

Esta característica não geográfica de um Pólo, determina fatores singulares como:

1. Uma comunidade que esteja sendo atendida, ao nível de saúde, por um determinado Pólo, ao se movimentar alguns quilômetros e seus membros resolverem procurar o atendimento em outro Pólo, pode determinar que esta comunidade (também a área geográfica) passe a estar sob responsabilidade de outros napëpë. Mesmo áreas contíguas podem ser gerenciadas por instituições diferentes, e isto altera a relação dos censos. fornecendo inclusive implicações "administrativas/monetárias". Estas mudanças de atendimento, muitas vezes podem ser, simplesmente, resultado das modificações nas relações entre as comunidades (p.ex.: brigas).

2. Comunidades que apresentem algum agravo e que estejam localizadas em um determinado Pólo, ao se movimentarem para outro Pólo, podem modificar totalmente os índices endêmicos de ambos os Pólos (P.ex.: o que acontece com a oncocercose).

3. Com a ATUAL criação de um sistema de Conselhos de Saúde (Conselho Distrital, Conselho Local, Conselhos Locais) e "Agente de Saúde", dentro das comunidades, réplica da municipalização da saúde na nossa sociedade, ocorre definitivamente uma transformação nas relações de autoridade:

3.1. Alguns indivíduos, normalmente entre os mais jovens, passam a representar as comunidades junto aos napëpë (ao nível de saúde) independente das relações sociais internas com os Tuxauas (Chefes) e com os Xapores (curadores), ou seja, eles passam a assumir uma parcela de autoridade (inclusive com acessos diferentes aos napëpë - em reuniões dentro e fora da área Yanomami, que lhes permite usufruir de "bens" que possam ser introduzidos nas comunidades). São criados, portanto, representantes dos napëpë dentro de cada comunidade. Isto também acontece em relação á educação, aonde cada comunidade passa a ter o professor, que também recebe as instruções dos napëpë.

As relações originais da hierarquia social ficam definitivamente transformadas !!!


O CENTRO ATRATIVO E COMERCIAL

O que pode significar a presença de um posto de saúde e/ou base da FUNAI na área Yanomami?

Normalmente a presença de um posto de saúde e/ou base da FUNAI (PI) determina que seja criada um área geográfica de interesse para obtenção de itens de troca (machados, facas, linhas, etc...) ou na aquisição de apoio de saúde para os indivíduos que assim necessitem (principalmente para tratamentos de malária e diarréias).

Santos & Coimbra Jr. (1994) em uma visão relacionada aos Tupí-Mondé já ressaltam processos extremamente semelhantes: "Tradicionalmente vivendo em pequenos assentamentos, com o tempo passaram a viver em aldeias cada vez maiores, situadas próximas aos postos da FUNAI, processo que se associa a uma crescente pressão sobre os recursos naturais já não passíveis de ser aliviado devido à redução da mobilidade."

Mais adiante, em aspectos gerais com as comunidades indígenas, estes mesmo autores descrevem processos que cabem nitidamente ao que está acontecendo, no momento, entre os Yanomami: "..à medida que prosseguem os trabalhos de aproximação, a população indígena tende a abandonar seus assentamentos e a mudar-se para perto dos postos de atração, onde a distribuição de bens continua por algum tempo, juntamente com o fornecimento de gêneros alimentícios e remédios".

Entre os Yanomami, como consequência desta contínua presença física dos napëpë, ocorre a aproximação e ocupação do entorno por alguma das comunidades da região, mas muitas vezes a construção inicial tanto do posto de saúde como do PI já é feita próxima à alguma comunidade pré-existente no local.

Esta comunidade estabelecida no entorno dos napëpë configura uma porta de entrada para que outras comunidade "amigas" possam também chegar.

Como os seus membros "conhecem" mais os napëpë residentes, assim passam as informações necessárias para que os visitantes possam obter, com mais eficiência, os objetos de suas solicitações.

Em alguns casos, estas comunidades podem apresentar um "zelo excessivo" por sua posição geográfica, fazendo com que as outras comunidades, tenham que, direta ou indiretamente, declarar as suas intenções e aquisições junto aos napëpë, ou seja, passando a exercer um controle das relações, culminando com que a comunidade circundante aos napëpë possa até exercer uma atividade seletiva no acesso aos mesmos, impedindo assim que outras comunidades "que no momento não são amigas" possam desfrutar tanto dos itens de troca como dos atendimentos de saúde.

Como os napëpë normalmente constroem casas que não estão ligadas com a transitoriedade dos fatores ambientais e com a exploração dos recursos locais (pois, em sua maioria, recebem os seus alimentos procedentes de fora da área Yanomami), não necessitam periodicamente mudar de lugar.

Este sistema menos dinâmico e interativo dos napëpë e a relação dos indivíduos Yanomami com a necessidade "criada" dos utensílios e da saúde, faz com que eles venham a gravitar no entorno dos postos por muito mais tempo, assumindo assim relação de constância.

Esta relação de constância que por consequência pode gerar dependência (e mudanças nas relações dos valores culturais) faz com que eles diminuam a sua mobilidade.


O SISTEMA DE "TROCA" E SUAS TRANSFORMAÇÕES ETNO-ESPACIAIS


Os Yanomami não apresentam um possessividade prolongada em relação aos objetos que os cercam, principalmente porque dentro dos seus seguimentos mitológicos não lhes é permitido serem "sovinas", ou seja, é quase impossível negarem um pedido. Assim, um objeto que um napë possa dar aos mesmos, em questão de uma semana pode ser localizado a uma distância de 30-40 quilômetros (da introdução de origem).

Isto ocorre pelo simples sistema de trocas sucessivas entre indivíduos de comunidades diferentes e/ou apenas doação (sob pedido) do mesmo entre parentes/amigos, e/ou pelo sistema social de festas com distribuição de objetos para os visitantes.

Assim, quase todas as introduções (panelas, linhas, anzóis, etc...) feitas pelos membros dos postos de saúde e/ou postos indígenas (PI) apresentam um grande deslocamento dentro da área.

Cada vez mais esta mobilidade dos materiais introduzidos se torna mais ativa do que a mobilidade dos grupos em sí.


DIMINUIÇÃO ACENTUADA DA MOBILIDADE



Citando Coimbra Jr. & Santos (1994): "Os estudos etnográficos apontam a alta mobilidade como uma característica comum à maioria dos grupos indígenas da região amazônica vivendo sob condições tradicionais. Os antropólogos tendem a interpretar a alta mobilidade destas populações como um mecanismo adaptativo para fazer frente às pressões de determinadas características ambientais, quais sejam: a) declínio da fertilidade dos solos após plantios repetidos; b) invasão das plantações por ervas daninhas e c) rarefação da caça próximo às aldeias. Outros autores também mencionam as lutas intertribais; a existência de muitas sepulturas no subsolo das malocas; morte de um chefe; proliferação de baratas; e o excesso de formigueiros nas cercanias das aldeias, como motivo para a mudança da aldeia. Do ponto de vista epidemiológico a acentuada mobilidade das populações indígenas pode funcionar como fator de proteção contra excessiva contaminação ambiental por formas infectantes de parasitas intestinais e enterobactérias.

Também em Coimbra Jr. & Santos (op.cit.): "Entre os grupos indígenas da região amazônica, a mobilidade está rapidamente sendo abandonada em associação com a aculturação e com a redução dos territórios tribais. Infelizmente, as consequências de tais mudanças socioculturais e ecológicas não têm sido devidamente acompanhadas por cientistas sociais e especialistas em saúde".



MOBILIDADE YANOMAMI & RECURSOS & SAÚDE

1. - OS RECURSOS OBTIDOS POR MEIO DE CAÇA E COLETA

A fixação (aumento do tempo na ocupação do mesmo lugar) de uma comunidade em volta do posto (saúde e/ou PI) faz com que sejam ultrapassados, em muito, os 3-4 anos com que as mesmas, normalmente, fazem as suas mudanças territoriais. Isto determina que ocorra uma maior concentração temporal nas atividades de caça e coleta numa mesma área, reduzindo assim a disponibilidade dos itens extraídos da natureza.

Cada vez mais eles podem necessitar irem mais longe para obtenção deste itens de caça e coleta.

2. - OS RECURSOS OBTIDOS POR MEIO DAS ROÇAS

A utilização dos recursos originários de uma determinada roça, normalmente, é menor (2 anos) que a transitoriedade de uma comunidade (3-4 anos) em uma determinada área.

Com a fixação de uma comunidade e a diminuição da disponibilidade dos recursos de caça e coleta, ocorre como consequência a necessidade de serem implementados os recursos originários por meio dos plantios (muitas variedades de banana, algumas de macaxeiras, mamão, milho, cana, etc...), ou seja, começam a surgir no entorno, cada vez mais, áreas desmatadas para novas roças.

Estes desmatamentos crescentes também projetam as áreas de coleta e caça para cada vez mais longe (isto não exclui que as roças possam servir como fontes atrativas para algum tipo de caça, mas que proporcionalmente não representam grande acréscimos alimentares).

Estes acréscimos de áreas desmatadas, mesmo que venham a sofrer uma utilização reduzida (2-3 anos) para a maioria dos seus itens (ema exceção de longa exploração é a pupunha) modificam substancialmente, cada vez mais áreas contíguas, caracterizando assim grandes áreas desmatadas, o que contraria o uso original "apropriado", por parte dos Yanomami, de pequenas áreas que possa, apresentar fácil e rápida recuperação.

Esta macro-diferenciação influi nitidamente tanto o macroclima local como a própria relação das comunidades com a floresta que cada vez fica mais afastada de suas casas !!!


O "RELAXAMENTO" DO COLETOR


O aumento considerável de roças, com o intuito de não se movimentarem muito, e portanto com uma disponibilidade mais constante de alimento, no entorno das comunidades (principalmente nas que estão perto dos napëpë), faz com que muitos jovens já apresentem desinteresse em fazer longas caminhadas par coletarem na floresta (uruhi), demonstrando assim um nítido processo de troca alimentar.

Ao serem perguntados sobre os seus ítens alimentares da floresta, muitas vezes ouvimos frases como: "- Esta fruta nós agora não comemos mais, só que come são os Yanomami mais afastados, que não fazem roças".


O "CONJUNTO" DAS COMUNIDADES


Como uma comunidade não está isolada, nem geograficamente, e nem em suas relações sociais no contexto aonde se encontra, por mais que esteja gravitando nas "facilidades" criadas pelos napëpë, seu estado relativamente menos relativamente menos dinâmico também permite uma constante alteração das outras comunidades.

Comunidades / pessoas possuem relações de amizades / inimizades (independente dos parentescos) e isto, originalmente faziam, na ausência dos napëpë, com que os espaços geográficos entre as diferentes comunidades tivessem uma ocupação também temporariamente diferenciada, ou seja, muitas áreas poderiam permanecer desocupadas por um longo tempo, desde que não existissem relações inter-comunitárias que possibilitassem a ocupação das mesmas.

Com a existência dos "pontos de convergência" (as sedes dos Pólos). começa a existir uma ocupação radial, em círculos concêntricos irregulares, ou seja, as comunidades indígenas vão chegando cada vez mais perto da "comunidade napë", respeitando no entanto as áreas de movimentação das outras comunidades.

Simbolicamente, é algo como o núcleo de um átomo (comunidade napë + comunidade Yanomami associada) circundado pelos elétrons em diferentes orbitais (as outras comunidades).

Nas comunidades mais distantes da região da fronteira com a Venezuela, este constante movimento de aproximação faz com que as áreas mais longe comecem a ficar progressivamente despovoadas.

Isto tem feito com que as áreas de coleta e caça fiquem localizadas em ambientes externos ao último nível (circulo), aonde as interferências / e domínios das comunidades de atendimento no Pólo ficam diluídas.

Nas comunidades próximas à fronteira com a Venezuela (p.exemplo: Pólos como Auaris, Xitei, Homoxi, Toototobi) as áreas vazias deixadas por este processo de aproximação para junto dos napëpë estão vagarosamente sendo ocupadas por populações vindas do território venezuelano.

Este movimento, que "nós consideramos", Venezuela => Brasil, geralmente está associado com a falta de atendimento médico por parte dos napëpë venezuelanos, principalmente junto às comunidades Yanomami localizadas nas cabeceiras do rio Orinoco.

Outro fator de ocupação destas áreas, muito mais recente, está associado à educação !!!

Indivíduos de algumas comunidades provenientes do território venezuelano estão se deslocando para áreas brasileiras (p.exemplo: Pólos Xitei, Toototobi) para aprenderem a escrever / ler o alfabeto fonético, ensinado pelos napëpë (membros de instituições ONGs e instituições religiosas).

Esta aproximação por meio da educação também está fazendo com que as comunidades localizadas na Venezuela se aproximem mais do território brasileiro ou até mesmo se transferindo par áreas do território brasileiro.

Como resultado deste movimento Venezuela => Brasil, está ocorrendo um progressivo despovoamento da bacia do rio Orinoco.

Por processos históricos e / ou necessidades, esta área poderá representar uma futura mega-área de coleta e caça. Mas isto não pode ser generalizado, pois existem inimizades históricas entre diferentes grupos que no momento impossibilitam um uso indiscriminado desta área (os domínios dos xamathari: denominação dada pelos ocupantes do lado brasileiro aos do lado venezuelano).

Até esta antiga rivalidade, intrinsecamente inclusa na realidade diária, está sendo repensada pelos Yanomami, tendo em vista principalmente as necessidades quanto aos aspectos de saúde, pois existem relatos, muito atuais, de que comunidades inteiras, ou a maior parte dos seus membros, que desapareceram por falta de atendimento médico [por exemplo: apenas alguns membros da ex-comunidade Tomokoxi (habitantes da calha superior do Orinoco) sobrevivem em Xitei e Toototobi, como resultante de surto de malária].

Estas possibilidades de desaparecimento generalizado está fazendo com que algumas comunidades repensem tanto os seus espaços com as suas relações, passando assim a aceitar "melhor" as relativas diferenças internas dentro da cultura Yanomami.


ÁREAS INTER-PÓLOS


Como os Pólos não representam um limite geográfico e existe um nítido movimento das comunidades em se aproximarem das base napëpë, ocorre que nas áreas intermediárias entre duas bases dos napëpë (ou seja, as sedes de diferentes Pólos) predomina uma diminuição gradual da população, resultando até ausência da mesma.

Se observarmos a área Yanomami como um todo, veremos que na realidade estão sendo formados corredores despovoados nas áreas inter-pólos.

Mais uma réplica da nossa cultura: a municipalização !!! As fronteiras dos municípios são menos povoadas.

Estas áreas podem ser consideradas como reservas coletoras / caça até que as comunidades crescam o suficiente para que voltem a explorar estes recursos, como fonte final disponível, ou seja, um supermercado para o futuro.

Quanto tempo será necessário para que este futuro possa desempenhar o papel de último recurso natural para as comunidades?

Isto dependerá, principalmente, da taxa de crescimento populacional dessa etnia.

Com base nos indicadores obtidos nos últimos 6 anos, aonde foi possível fazer um acompanhamento da saúde Yanomami (pela intervenção das ações sanitárias desenvolvidas diretamente pelo governo federal, ONGs e missões religiosas) podemos verificar a existência de altas taxas de natalidade acompanhadas de reduzida taxas de óbitos, ou seja, em geral os Yanomami estão apresentando um elevando desenvolvimento populacional.

Como exemplo desta situação podemos citar que no Pólo Xitei as proporções entre óbitos / nascimentos entre os anos de 1995 a 2000 foram de: 1/4,2 (1995). 1/1,21 (1996), 1/1,43 (1997), 1/1,7 (1998), 1/12 (1999) e 1/11,1 (2000).


O AGENTE DE SAÚDE E O PROFESSOR


A presença de um agente de saúde e de um professor em cada comunidade evita que eles tenham que se direcionar constantemente para a base do Pólo, pois, a princípio estes dois agentes dos direcionamentos napëpë devem gradualmente suprir as suas necessidades primárias.

Com o tempo, a princípio, eles DEVERIAM ficar mais independentes, mas isto apenas poderia ser uma realidade desde que os Yanomami passassem a fabricar o papel, o lápis, os possíveis livros, e os medicamentos (exceto o que já lhes são naturais - que são aplicados pelos Xapores).

O que deveria devolver às comunidades uma certa mobilidade, com o acréscimo de conhecimento (saúde / educação), na realidade fará com que estas fiquem menos móveis, pois estão sujeitas a se atrelarem mais a estes bens materiais.


O HOSPITAL "IDEAL"


Na área Yanomami existe um hospital projetado e implantado pela FUNASA (então FNS) com o intuito de que o mesmo fosse uma base relativamente completa que poderia evitar os contínuos deslocamentos dos Yanomami para Boa Vista, tendo em vista que eles apresentam características culturais bastante peculiares (principalmente isolamento) e assim, poderia diminuir o contato com outras etnias (na casa do Índio) e com os napëpë (na cidade).

Outras unidades semelhantes também forma projetadas mas não forma implantadas, tendo em vista os exemplos e experiências obtidas com a implantação do primeiro.

Histórico: Junto a este hospital está estabelecida uma comunidade Yanomami.

Esta comunidade assumiu a responsabilidade de selecionar quais grupos de Yanomami podem desfrutar dos serviços médicos, inviabilizando assim grande parte dos objetivos pelos quais o hospital foi implantado.

Grande parte dos Yanomami (do mesmo Pólo e de outros) continuaram sendo transferidos para Boa Vista.

Estas ações seletivas, por parte dos Yanomami, também são implementadas quanto às pessoas napëpë que trabalham no referido hospital.

Algumas vezes esta unidade hospitalar teve que ser fechada, e seus funcionários serem retirados, as pressas, sob ameaça de invasão e morte !!!

Quem projetou o hospital e seus serviços provavelmente esqueceu-se que dentro da Área Indígena as regras entre as relações humanas e ambientais são outras !!!

Atualmente o Pólo aonde está implantado este hospital foi subdividido em vários outros Pólos ; Sub-Pólos (inclusive com a construção de pistas para aviões e casas de apoio), tentando com isto prestar uma assistência igualitária para as comunidades excluídas do atendimento no hospital.

Uma solução !!!

Esta comunidade, que domina a área aonde os napëpë (Hospital, Pelotão do Exército, Posto da Polícia Federal, Posto Indígena da FUNAI) têm presença, e para manter tal, eliminou o seu comportamento natural de semi-nomadismo.

As suas casas apresentam um aspecto de aproveitamento de "sobras de material" (lonas, madeiras, latas, etc..) dos napëpë.

Uma parte dos seus membros fica no entorno das "residências" dos napëpë, no intuito - constante - de obterem alimentação, roupas, etc..., como também pegarem o que eles consideram que devam pegar (e levar) !!!


A "QUEBRA" DA SEGURANÇA CURATIVA OU A INTRODUÇÃO DO LIMITE CURATIVO


Com a demonstração, cada vez mais repetida de que os "remédios" trazidos pelos napëpë são muito fortes, muitos Xapores (curandeiros), deixam de explorar em extensão e profundidade as suas capacidades em relação aos hekura (espíritos que utilizam para determinar / auxiliar nas curas), fazendo assim com que suas funções, muitas vezes sejam até desconsideradas pelos jovens, pela constante disponibilidade das facilidades fornecidas pelos napëpë (por exemplo: posto de saúde).

Uma realidade disto pode ser demonstrada com a apresentação de um caso:

- Um jovem Xapore após participar de muitas sessões de cura de diferentes pessoas (inalando o Ya´kuana) ficou "meio" desorientado.

- Outros Xapores mais fortes passaram um dia tentando fazer com que o mesmo voltasse ao normal, mas não conseguiram o intento.

- Sendo assim, foram juntos as missionárias e solicitaram para que uma delas chamasse o grande Xapore (Jesus) para curá-lo. Importante dizer que estas missionárias apenas praticavam a assistência de saúde educação, e nunca desenvolveram, junto aos Yanomami, qualquer atividade religiosa.

- Por mais que os Yanomami tenham tido uma explicação "mitológica" do acontecido com o jovem Xapore, eles desistiram muito rapidamente de curá-lo.

- Como consequência, o jovem foi transferido para Boa Vista, e após algum tempo de descanso, longe de suas atividades de xapore, o mesmo voltou completamente ao normal.

Os medicamentos dos napëpë, assim como também as curas ao nível espiritual, passam a ter poderes superiores que a cultura Yanomami.

Com o tempo, isto está sujeito a ser mais um desestímulo para manter a continuidade cultural por meio dos jovens !!!



FINALMENTE !!!


Santos & Coimbra Jr. (1994) escrevendo sobre os Tupí-Mondé (Gavião, Suruí e Zoró), localizados na região do Sudoeste da Amazônia brasileira: "Estima-se que antes do contato, as aldeias eram constituídas por não mais do que 100-200 indivíduos, que viviam em grandes malocas habitadas por famílias extensas. Nesta época, predominava um padrão de vida seminômade: as aldeias eram relocadas de tempos em tempos, o que contribuía para compensar a diminuição da produtividade das roças e a rarefação dos recursos de caça e produtos silvestres nas circunvizinhanças."

Esta história continua se repetindo.

Estamos no início destas transformações dentro da cultura Yanomami, por mais que eles estejam aparentemente isolados, os estímulos diferenciados estão sendo fornecidos pela implantação do nosso sistema de saúde no interior de sua área indígena.

Langdon (1994) ao se referir aos índios Siona (da Colômbia) disse: "Já não é possível para os Siona se manterem autônomos em suas práticas tradicionais de subsistência (agricultura extensiva, complementada pela caça e coleta de plantas silvestres)."

Esta observação para os Siona poderá ser uma projeção para os Yanomami ???

Sim !!!

O que pode fortificar este pensamento vem do exemplo já fornecido pelas comunidades Yanomami que se localizam nos afluentes da margem esquerda do alto rio Negro.

Nestas regiões existem comunidades que foram se transformando, ao longo dos últimos 20 anos, pelos processos integrativos, junto aos garimpos, aos acessos constantes às "grandes" cidades regionais, às trocas comerciais com os napëpë circundantes, e aos estímulos para participarem das atividades militares.

Mesmo estando com suas casas longe das cidades, eles já têm Associação representativa, já possuem acesso ao sistema telefônico, já desfrutam da energia elétrica, já dominam o uso de tratores, sendo o consumo de material alimentício acentuadamente proveniente dos napëpë.

Assim, estas comunidades já não se diferenciam muito do que foi citado anteriormente para os Siona !!!

Será que nossa diversidade comportamental, relativa a contatos interculturais é tão restrita ???

Estamos repetindo os mesmo comportamentos desde os contatos iniciais entre as culturas indígenas da América e as culturas da Europa !!!

Será que somos capazes de implementar um outro tipo de assistência de saúde, que pelo menos não seja um ESTÍMULO BÁSICO para transformar ACENTUADAMENTE a cultura Yanomami ???

Depois deste texto ter sido escrito, foi disponibilizado para um Yanomami, de 14 anos de idade.

Suas palavras no final da leitura foram: - Muito triste ! Eles (os napëpë) não devreiam fazer isto.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLACK,F.L. 1994. Infecção, Mortalidade e Populações Indígenas : Homogeinidade Biológica Como Possível Razão para Tantas Mortes, 63-90 p. , in : Saúde & Povos Indígenas (Ricardo V. Santos & Carlos E.A. Coimbra Jr, organizadores), Editora Fiocruz, 251 p.

COIMBRA JR.,C.E.A. & SANTOS,R.V. 1994. Ocupação do Espaço, Demografia e epidemiologia na América do Sul: A Doença de Chagas entre as Populações Indígenas, 43-62 p., in : Saúde & Povos Indígenas (Ricardo V. Santos & Carlos E.A. Coimbra Jr, organizadores), Editora Fiocruz, 251 p.

CONKLIN,B.A. 1994. O Sistema Médico Wari´, 161-188 p. , in : Saúde & Povos Indígenas (Ricardo V. Santos & Carlos E.A. Coimbra Jr, organizadores), Editora Fiocruz, 251 p.

FUNASA / DSEIY-RR. 2001. Censo populacional Revisado e alterado em setembro de 2001. 8 páginas (manuscrito). Boa Vista, Roraima.

LANGDON,E.J. 1994. Representações de Doenças e Itinerário Terapêutico dos Siona da Amazônia Colombiana, 115-142 p., in : Saúde & Povos Indígenas (Ricardo V. Santos & Carlos E.A. Coimbra Jr, organizadores), Editora Fiocruz, 251 p.

PELLEGRINI,M.A. 1993. Wadubari. Editora Marco Zero, São Paulo, 132 p.

PY-DANIEL,V. 1997. Oncocercose, uma endemia focal no hemisfério norte da Amazônia, 111-155 p., in : Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima (Barbosa,R.I. & Ferreira, E.J.G. & Castellón,E.G., editores). INPA. 630 p.

SANTOS, R.V. & COIMBRA JR,C.E.A. 1994. Contato, Mudanças Socioeconômicas e a Bioantropologia dos Tupí-Mondé da Amazônia Brasileira, 189-212 p. , in : Saúde & Povos Indígenas (Ricardo V. Santos & Carlos E.A. Coimbra Jr, organizadores), Editora Fiocruz, 251 p.

VON MARTIUS, K.F.P. 1844. Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros, (2a. Edição, 1979), São Paulo, Ed. Nacional (Brasiliana; vol. 154), 183 p.



[Py-Daniel,V. - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Coordenação de Pesquisas da Saúde, Laboratório de Filarioses e Vetores / Souza,F.S. - INPA, Divisão de Pós-Graduação, Curso de Ecologia]

[O original deste trabalho pode ser encontrado em: http://nerua.inpa.gov.br/NERUA/23.htm, e foi uma apresentado no I Encontro de Etnobiologia e Etnoecologia da região Norte - 5-8.12.2001; publicado no ano de 2002]

*************************
XXX. CEGUEIRA DOS RIOS: DOENÇA AINDA FAZ VITIMAS ENTRE INDÍGENAS NA AMAZÔNIA.
Abreu,W.
[Revista Ciência Para Todos; Número 10, ano 5, 62pp - ISBN 1984 - 7653]

Acesso ao PDF

***************************

XXXI. EFECTO DE LA MIGRACIÓN EN LA POBLACIÓN YANOMAMI SOBRE LAS COBERTURAS DE TRATAMENTO.
Py-Daniel,V.
[XII Conferência Interamaericana sobre Oncorcercosis, OEPA - 52pp - 2002]


Acesso ao PDF

**************************
XXXII. MOVIMENTAÇÃO YANOMAMI E SUAS RELAÇÕES COM AS ENDEMICIDADES
Py-Daniel,V.
[II Seminário de Propriedade Intelectual, Ciência e Conhecimentos Tradicionais da Amazônia - 177pp - 2005 / ISBN 978-85-211.0036-2]

Acesso ao PDF

**************************
]